Victor Requião

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Histórico

domingo, 28 de dezembro de 2008

Cortinas de hotel

Um vapor leve subia por fora da janela do hotel, lá viam-se as luzes vagas da rua que perdiam a sua nitidez com o tom sem forma que a noite ganhava. Ao longe não se viam muitas pessoas, apenas um casal que andava abraçado, e mais ao fundo uma mulher que a pouca claridade impedia que fosse visto o seu contorno. A respiração num compasso quase meditativo embassava em ritmo hipnótico o vidro da janela encostada por onde entrava finamente um vento tímido e frio. Olhando bem para a mobília, para a tinta da parede, e para todo o ar de desconhecido que pairava sob aquele quarto silencioso, tudo parecia inteiramente novo como se nunca fosse pertencido a alguém e aquela seria a sua primeira estréia. Não, não. Haviam sinais de desgaste, riscos quase imperceptíveis na parede e a nova camada de tinta da janela já mostrava os traços do tempo que passava e a arranhava à cada manhã onde era aberta para que o ar entrasse no quarto. Mas como tudo aqui simplesmente era novo, sendo um caminhante, a percepção se agussa e todos os detalhes mostram o valor da sua existência. E isso passa despercebido, como tudo ao redor que tem o seu jeito particular de ser quando ninguém está olhando.

Mais cedo, no início da noite havia estado na mesa de um bar onde conversara por horas, rindo juntamente com todos que estavam na mesa. Entre tantas vozes que ganhavam timbres próprios e que depois de algum tempo já poderia saber de quem eram de olhos fechados, ouvia estórias e sentia-se novo entre tantos mundos ao seu redor. Eram novos, mas também eram antigos. As garotas tinham anos de vida, suas vivências também, assim como as feições no rosto do rapaz já tinham as marcas de acontecimentos não muito recentes. Mas tudo era novo! Era como num universo completamente intocado, onde apesar de saber da sua existência, não são todos os momentos onde há a revelação das suas verdadeiras intimidades. Sim, cada pessoa e cada vivência possuia a sua intimidade, não algo que não possa ser visto por pudor, vergonha, ou algo assim, não. Os detalhes em cada pessoa a faziam íntima de si mesmo, e nisso era como uma paisagem que preferia observar e se deixar apenas conduzir pelo olhar, sem apegos ou romantismos desnecessários. Anotou o telefone de uma delas na primeira folha da Moleskine que havia comprado, mesmo sabendo que não iria ligar. Algumas frases levaram à certeza que conversas como aquela não eram incomuns, repetiam-se continuamente em vários lugares do mundo. E os gestos naturais de todos ali eram apenas para serem observados, e sorvidos à cada gole do copo.

O vento soprou forte e a janela encostada abriu-se de repente, a cortina balançou bravamente enquanto já deitado na cama observava e não havia estímulo algum de levantar. Que são as janelas presas, se da rua mesmo com as luzes acesas não saberão que está ai dentro?

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

O sotaque mudou,
Assim como as visões.
E profundamente não há mais estranheza no chegar
Apenas breves sensações ao partir...

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Mãos dadas



"Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlaçemos as mãos). "

F. Pessoa

E tudo vem mudando
Tão sutilmente, indiretamente.
Fazendo estar próximo e quase tocando
O que havia pensado, e até preferido, que longe estivesse!

Mas pensando bem,
O querer existia, e mesmo agindo diferente,
Mesmo cultivando outros jardins,
Havia a semente por trás do quintal.
Que surgia como se durante o sono fosse regada
Para que quando acordasse, nada fosse lembrado.

O que virá desta semente?
Uma flor, certamente.
Mas haverá frutos, novas sementes?
Haverá sombra por onde deitar e observar quem passa ao longe?

Não importa, apenas vale é o que vingou.
E de nada há o pensamento,
Quem além de simplesmente recear novamente,
Imagina que tudo retornou.

Mas que venha,
Estando entre os mesmos jardins,
Mas em novas tonalidades naturais
E em um novo brotar da terra...

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Rosa dos Ventos


"And every road I walked would take me down to the sea
With every broken promise in my sack

And every love would always send the ship of my heart

Over the rolling sea
"
(Sting - Valparaiso)


Fica sem porto, navio distante
Não precisas de algo seguro
Tuas velas te levam pelo mundo
E te atracam em terras de muitas cores
Muitas gentes, e muitas verdades.

Nestas terras há o incenso, e há o vermelho
Das tinturas em pele, e das paredes brancas das casas
Que refletem o sol
E que brotam as figuras de vida.

Não te prendas, não necessitas de um caz cego
Tampouco de um ancoradouro que te perca a direção
Contempla o que tens, e o que te trouxe a perceverança.
Mesmo que duvidada, segue a rota solene
Das marés e da estrela do norte, lá estará sempre o teu novo início,
Lá estará a rosa dos ventos que sopram os cabelos do teu capitão!

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Vento leste
Sol que doura a pele
Amorenando os lábios
Que sintilam sob luas de verão.

Os castelos, e ela

Na altura dos castelos feitos de nuvem, lá de cima
Vejo as figuras que passam,
E me observam como se nada fizesse diferença
Além certeza de não haver pressa.

Os caminhos me direcionaram, para longe, muito longe
E nem sentia a distância, e nem me sentia longe
Pois não havia elo que me unisse a nada
Intimamente real de onde vim.

Então, como se ao vê-la tudo fizesse um sentido insone
E eu me pegasse a pensar, e a recear novamente reviver
O lado íntimo meu, profundo e honesto como o sorriso dela.
Não sei, e não tenho como saber.
A não ser evitar apressar o tempo, mesmo que de longe,
Para que me torne perto, e os castelo de nuvem me levem
Sentindo a minha presença junto a dela.

domingo, 19 de outubro de 2008

E mesmo de longe, de lugares onde nunca pensei estar
Sei que existe de onde vim, um mundo lá que passa
Sem que eu esteja, e que procuro não pensar.
Pois se assim fizesse, estaria mais lá, e não aqui.

E nas viagens, me diluo em novas águas
Ganhando novas cores e me esqueço de outros eus
Sendo ínteiramente um novo,
Envolto em novos traços de pele.

Irei agora ver o horizonte
E deixar que se vá a última gota de um eu meu,
Em direção ao rio que desce para o mar.

sábado, 4 de outubro de 2008

Há muitas músicas para serem ouvidas em conjunto,
Apesar de poder deixá-las a tocar o dia inteiro
Em um quarto onde o Sol entra pela janela,
Sem precisar que lá eu esteja,
E torna tudo diferente na voz de quem canta.

Enquanto não chega, viajo e deixo estar.
Deixando que tudo na minha ausência repouse,
E as melodias sejam transportadas comigo,
Cantando em lugares por onde passo
E que acabam ficando em mim.

Não lembro delas como antes,
E por estarem comigo sempre serão elas.
Sendo nas vozes do mundo, onde em pé fito as diferenças
Dos sons das terras que me cruzam,
Abrindo as porteiras para quem ainda não sabe quem sou.

E quando souber, não precisarei dizer nada
Apenas cantar na intimidade da voz minha, mas também dela,
As músicas que compartilharemos
Em noites que antecedem ao Sol que entra pelas janelas.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

O lago hoje estava sem balanço em suas águas,
Como se apenas observasse a tonalidade cinca claro
Vinda das nuvens que sobre si passavam sem cessar.

E como num divã natural,
Repleto da essência da própria natureza
Pode o não-desejo deitar-se,
Observando e falando palavras espontaneamente.

Vindas de um mundo desconhecido,
Envolto em outros novos mundos.
É tão maravilhosa a possibilidade
De entregar-se a eles, um após outro,
E mergulhar nas águas do auto-permitir.

Passa por mim alguém que conheço

Acenando-me a mão libera o seu sorriso,
Algo tão breve e sincero que desconheço.
E se fez tão honesto que me fiz amigo.

Com tantas vezes que vi, diversas, 
Muitas vezes longe, mal senti.
Desde o tempo onde calados estávamos,
Para em breve estarmos em caminhos parecidos.

Passa-me rápido
E saboreio o resquício da bebida ainda em minha boca.
Gole tomado antes mesmo de imaginar-lhe passar.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

"Nenhum homem pode banhar-se duas vezes no mesmo rio,
pois quando ele ali entrar a segunda vez,
já é outro homem, e o rio também já é outro."

Heráclito de Éfeso


Tudo que me é dito como eterno, eu duvido.
Por mais que tudo esteja aparente em seu lugar
Engano há, tudo mudou, intimamente mudou.

Então tudo é sempre novo,
A oportunidade um dia tida,
Será renovada em outra mais à frente.
Mas a mesma em si, já se foi.

Nem mesmo o hoje,
O amanhã não será como o depois.
Assim, não venha sempre como o agora
Abra-me suas diversas possibilidades
E conquiste-me em cada ser seu.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Em posição lenta
O corpo imita o Sol.
Movimentos, repetições
Como dança a embalar sutis respirações.

Tão antigas, mas parecem novidades
Sem mestres, ou quaisquer outros guias.
Os ensinamentos brotam, quase sem querer
Mas com intenções verdadeiras deixadas a quem se permite.

Saudando o Sol em corpo ereto,
Vivencio posições minhas, não só do meu corpo.
Mas de toda a existência que habita em cada inspiração,
De qual me torno uno com tudo que há em mim.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Vou caminhando entre diversas realidades,
Tantas que nem me importo.
Apenas sinto a sutil linha
Que separa uma das demais.

Entre essas diversas formas,
Coexistem mesmas visões
Que ganham cores e possibilidades
Cada uma à sua maneira,
A cada passo que é dado nelas.

Como bolhas, coexistem e são como são
Passando despercebidas pelos demais do mundo
Nem mesmo ao se tocar em sua linha divisória
Que tomam cores e novos contornos
A visão comum nota-lhe a existência.

Então em momentos breves
Quando o olhar se desapega,
Tornando-se pura contemplação
Surge a beleza das coisas
Envoltas em novas tonalidades.

Tenho constantemente me pegado a olhar o horizonte
A admirar as distâncias, e o vibrar dos lugares.
As leituras tem sido senão caminhos a direções algumas,
Criando a sintonia necessária ao reino das coisas.

Toda a viagem feita pela manhã
Sempre conduz a uma nova Natureza,
Existências diversas, além de qualquer estado meu.
E me põe a não discutir qualquer significado,
Pois sendo assim, há sempre novas revelações.

E ao chegar da noite,
Esperada indiretamente,
Mudo a posição da minha cama.
Para que possa simplesmente ver as diferentes tonalidades do céu
E acordar sem nada pensar.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Enquanto deitado, numa vontade despretenciosa de nada fazer
Sinto o querer de ouvir sua voz
Mesmo sem nunca a ter ouvido,
Apenas a sensação de a perceber ecoar pelo ar que agora me envolve.

Ouvi-la seria maior que qualquer outro querer
Que neste exato momento me faria completamente envolto
Nas belezas de nada ser
Enquanto o que não é meu está aqui comigo.

Mas sei que de seu corpo, flutua como aroma desconhecido
A distante leveza de vê-la dançar,
Não com os olhos.
Ah! Estes de nada serveriam...

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Tudo vai se transformando entre passos contínuos
O que é visto hoje frente aos olhos, amanhã estará no tempo.
E o tempo que envolve hoje em seus laços
Não passará de vaga e inerte lembrança do amanhã.

Não me resta senão nada desejar
Se tudo estará tão solto e fora de qualquer idéia.
Além de qualquer intensão verdadeiramente minha,
Apenas há a Vontade, e somente nela direciono os meus passos.

Prefiro a ausência de qualquer pensamento,
Somente direções pelas quais sou conduzido aos acasos.
Admiro a sincera atitude de quem me foca o olhar
Através de sorrisos, toques ou sensações.
Assim, abrindo-me por inteiro,
Compartilho e sinto, a beleza que de mim flui.

domingo, 24 de agosto de 2008

Pagan Ballad

Sometimes it must disappear,
Even if it's right in front of you.
It doesn't matter,
I might be quite right here...

Oh, can't you see?
It's the rise, turning around
Hear our sound!

I know it had a chance
Let's do it and change it all again,
Hold my hand, give me a second dance!

Don't stop holding firm,
It's amazing how we can turn
A trembling flame, that's what we became...

Penso no escutar das vozes de dentro,
Naquela mistura que vem de várias cores
E me direciona a certas sensações.

Há sempre um grande calderão
Onde tinturas, e porções borbulham,
Vermelhas, amarelas, verdes e simplesmente cores...

Nesse pulsar vivo, quase tocável pela força que vem das mãos
A mistura multicor toma formas e pulsa em meu coração.
Neste ponto sou chama, e deixo-me queimar sem impulso.
Mesmo me questionando se devo transbordar em sensação,
A canção que me brilha e me faz querer cuidar do sorriso desta mistura.

sábado, 23 de agosto de 2008

Pensava eu ter esquecido de todo o pensamento.
Das sensações vindas de um sorriso
Quais nos pega de surpresa
E nos mudam as direções.

O foco em um único caminho acaba por ser uma cruzada,
Por onde os pés seguem, mas no fundo se imaginam
Pegando pequenos desvios rumo a imensidão.
Sendo o que se é, e sem repetições passadas...

Mas como não ter o receio de se repetir,
Se as palavras vindas de madrugada
Prendem por completo o pensamento durante todo o dia?

Não tente abraçar, deixe que o tempo lhe abraçe.
Em ventos que passam
Virá o sorriso que lhe aceita a direção.

domingo, 17 de agosto de 2008

"Our inner lives are eternal, which is to say our spirits are as youthful and vigorous as when we were in full bloom. Think of love as a state of grace, not a means to anything, but the alpha and omega, an end in itself."

(Love in the Time Of Cholera -
Gabriel García Márquez)

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Amazing, not so long from here
Shine apon the day one more step
Further ahead of the old ones
Which its marks are not revealed by time.

All senses seems to be lost at once
And all imagination seems to be hidden.
Why such moments always appear as part of the path?
Could it be at least demystified?

Along, quite here, I touch my hairs with softness as the wind.
All breeze would conduct me by touching my back,
And another shiny step will be left on the paths of time.

terça-feira, 10 de junho de 2008

Lights of change - I


On the top of the lighthouse
No past or future is seen.
No even if I try to change by force,
Honestly, it would renew as once it should be.

Near, close to the clarity
Distant waves dance so far like a life of unconsciousness,
And it continuous to be, conscious for themselves like it has always been.
Paths ahead, almost unseen,
Clear like the lighthouse's light I am in.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Agradecimento

Gostaria de compartilhar uma análise feita aos Contos Interditos por uma pessoa que realmente me tocou com suas palavras. O fato de ser psicóloga não a levou a uma observação analítica ou desprovida de sensação, mas a conduziu à beleza do mergulho nas várias tonalidades psicológicas quais senti acompanhar os passos de cada personagem.

Roberta, agradeço pela forma gentil e sincera qual demontrou na sua percepção dos "Contos", assim como pela força sempre próxima demonstrada em todos os momentos...

Meu sincero muito obrigado!

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"Antes de falar propriamente sobre seus contos e sobre a análise que fiz de suas estórias gostaria de fazer algumas considerações: a primeira delas e a de que interpretei os personagens e suas estórias da maneira que eu as percebi e não da forma que você as pensou, portanto não fui nada objetiva.

Um dos motivos reside no fato de que suas estórias são altamente subjetivas e dão margem a diversas interpretações tornando o trabalho de análise difícil e complexo, também talvez porque não conheça bem suas “motivações” para escreve-la. Daria para escrever um livro... Mas segundo nosso amigo Jung, “as idéias subjetivas são realmente as mais verdadeiras”, e partindo deste pressuposto, acho que estamos no caminho certo. Também não sou conhecedora da obra de Jung, só conheço o básico, e, portanto, não espere valiosa contribuição desta analise, mesmo porque é possível que você conheça mais Jung que eu.

Inicialmente pensei em analisar cada um dos seus personagens, mas depois achei que seria mais interessante falar da obra como um todo. Gostaria de iniciar meus comentários dizendo que gostei muito do fato de você ter dado atenção à questão dos sonhos, um tópico que, aliás, foi de fundamental importância na vida e obra de Jung. Foi a obra “A Interpretação dos Sonhos” que ligou Freud a Jung. Poucos pensadores se dedicaram a estudar os sonhos e muitos até desprezam o poder dos sonhos em nossas vidas. Por conhecidência ou não foi um sonho e suas divergentes interpretações o responsável pela cisão de Jung com Freud: o famoso sonho da viagem deles aos EUA.

Mudando de assunto, é muito interessante a tentativa de Jung de estabelecer algum tipo de equilíbrio entre o intelectual supervalorizado (leia-se ciência) e a imaginação proibida para este tipo de estudo, um dos motivos que levam Jung a ser chamado de místico. Vejo o mesmo nos seus contos quase que como uma tentativa, ainda que não consciente do resgate ao estilo e métodos de Jung, e esta é, com certeza, uma das riquezas presentes no que você escreveu em seus contos.Como já citei, nem sempre entender o que você escreve é fácil, assim como também não é fácil entender a psique humana e muitas vezes podemos lidar com o “Contradicto in Adiecto”. À luz das idéias de Jung, poderíamos entender isso como nossa busca na tentativa de compreender a psique humana nos levando ao uso de “ferramentas” que muitas vezes parecem ambíguas e paradoxais, por vezes chocando-se frontalmente com o senso comum. Mas paradoxais e ambíguos são alguns aspectos de nossa natureza psíquica. E se nem a física moderna preocupa-se tanto assim com a lógica e objetividade, por que nós, amantes das ciências humanas deveríamos nos preocupar? Na verdade, em todo este contexto é preferível usar o termo reflexão. Refletir sobre o subjetivo é diferente de entender. Eu na verdade não entendo a psique, reflito sobre ela, assim como sob uma outra lógica entendo que dois mais dois são quatro.

Em vários momentos de sua obra, Jung reafirma que há uma integridade indivisível, uma espécie de relação de incerteza entre o observador e o observado, que sempre o perturba pelo ato da observação. Nenhum modelo pode ser “livrado” das influências subjetivas do seu criador. Então para analisar o modelo faz-se necessário analisar o criador. Tipo com funções sentimento e sensação mais desenvolvidas, tem como características marcantes a obstinação, o perfeccionismo e a introversão, tornando-se difícil compreender seus sentimento e pontos de vista se estes não forem relatados verbal e explicitamente. Estas características são perceptíveis em sua obra e criam uma correlação óbvia entre a complexidade de compreende-los objetivamente.

Voltando a citar Jung e sua obra, este teve fortes influências do movimento romântico, que eu poderia também chamar de movimento dramático. Se eu pudesse usar uma palavra para definir o romântico ela seria “sofredor”. O sofredor, ou diria romântico, sofre do arquétipo da ânsia insaciável. Quando menino, Jung leu Fausto, de Goethe. Ele relatou que o caráter do personagem Fausto veio para ele a ser mais significativo que a estória de Jesus Cristo. Neste ponto Victor, sua obra se contrapõe com Jung. Seus personagens não sofrem, eles estão quase sempre envoltos em pensamentos e sensações maravilhosas. È claro que isso não tira a qualidade de sua obra, mas por alguns momentos me fez pensar sobre o cinza que está escondido por traz do cor de rosa e crer que sua obra tem muitas semelhanças com suas atitudes sentimentais e comportamentais, algumas delas descritas por um escritor chamado Schiller, e que influenciou Jung no desenvolvimento de sua teoria dos tipos psicológicos. Onde você escondeu a sombra? Iniciando minhas considerações finais e plagiando Schelling, um filósofo alemão que teve forte influencia sobre as idéias de Jung, faço uma correlação, em termos humanos, de sua obra com o consciente/inconsciente, um tipo de atividade criativa do si mesmo do espírito. Nós como indivíduos não simplesmente recebemos um mundo criado. Ao contrário, cooperamos com a natureza na atividade de cria-lo. Há uma troca, pois ele nos transforma assim como nós o transformamos e isto está explicitado em sua obra e nos seus personagens.

Por fim, espero que meus comentários estejam à altura de sua obra, e, por favor, não pare de escrever, mesmo porque sei que não sou a única que sentirá falta dos contos interditos, pois, de maneira que às vezes parece simples (mas só aparentemente), você nos faz pensar sobre as coisas mais “aparentemente banais” das nossas vidas e nos faz refletir sobre o quanto elas são importantes. Mais do que ler, eu pude sentir sua obra e me transportar por vezes para seus personagens com seus sentimentos, suas sensações, seus pensamentos, e porque não intuições... (Roberta Mata)"

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Contos Interditos - Parte final

Vivenciar

Todos os cinco ali sentados me remetem à frente, como se ao vê-los assim fosse impulsionado a ser completamente novo e desbravador do meu próprio caminho. Não há solidão, nem mesmo tentativa alguma de estar só, pois quando se vive o início do que chamo "os anos verdadeiros" sempre se almeja ter a companhia sincera de alguem que se importa em simplesmente sorrir despretenciosamente ao seu lado.

Por tantos os rostos passo diariamente, e percebo quantas milhares de possibilidades se abrem à minha frente em cada passo que dou e percebo, são formas que intimamente podem conduzir desde o mais longínquo dos lugares até o mais próximo dos aconchegos. Essa tal possibilidade de acasos a se cruzarem me faz bem, e isso serve-me como elixir por onde minha mente devaneia e se deixa levar pelas constantes novas possibilidades do meu tempo presente.


Sinto os meus olhos se afastarem do círculo que entre as árvores é iluminado pelas chamas da fogueira, sei que esse momento de comunhão é imperceptível aos olhos e impossilvel de relatar em palavras. No sorriso alto de Lídia, e no balançar ao vento dos cabelos de Vick me banho no perfume delas e sinto a verdadeira essência do amor. Hesse o grande amigo de tempos que nem sei, em suas sábias palavras me fortaleço nessa não-busca, apenas na necessária vivência do que há em mim. Nos abraços de Tomas eu deixo o meu fraternal gesto de liberdade, Dhrei no sincero apoio levo as sementes férteis da amizade. Prefiro deixá-los agora e partir, de forma que nunca mais possa me considerar acostumado e antigo aos velhos costumes de ser quem tenho sido todos esses anos de ruptura da infância. Saúdo o sol com alegria e amor no coração, por suas luzes caminharei pelos prados e não deixarei passos, apenas o meu toque e o meu sorriso. Assim como levanto a mão esquerda e toco a chuva que rodopia ao cair do céu. Serei como o vento que simplesmente segue, e banha a todos com o seu frescor e sinceridade.

Abra-me as porteiras de tuas terras, e lá estarei contigo, pois agora sou amigo de todos os ventos...

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Conselho a si mesmo

Nem sempre é fácil levar ao momento presente
A verdadeira sabedoria ao se sentir vazio.
Um momento repleto de significado.

Como tudo que segue,
Deixa que vá.
Que adormeça na beleza do tempo,
Na clara certeza da infinidade do estar.

Não creia nos deuses vagos
Apenas na jóia serena que florece no que há de vir.
Tenha os olhos para ver, e que seja assim.

Victor Requião