Victor Requião

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terça-feira, 29 de abril de 2008

Agradecimento

Gostaria de compartilhar uma análise feita aos Contos Interditos por uma pessoa que realmente me tocou com suas palavras. O fato de ser psicóloga não a levou a uma observação analítica ou desprovida de sensação, mas a conduziu à beleza do mergulho nas várias tonalidades psicológicas quais senti acompanhar os passos de cada personagem.

Roberta, agradeço pela forma gentil e sincera qual demontrou na sua percepção dos "Contos", assim como pela força sempre próxima demonstrada em todos os momentos...

Meu sincero muito obrigado!

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"Antes de falar propriamente sobre seus contos e sobre a análise que fiz de suas estórias gostaria de fazer algumas considerações: a primeira delas e a de que interpretei os personagens e suas estórias da maneira que eu as percebi e não da forma que você as pensou, portanto não fui nada objetiva.

Um dos motivos reside no fato de que suas estórias são altamente subjetivas e dão margem a diversas interpretações tornando o trabalho de análise difícil e complexo, também talvez porque não conheça bem suas “motivações” para escreve-la. Daria para escrever um livro... Mas segundo nosso amigo Jung, “as idéias subjetivas são realmente as mais verdadeiras”, e partindo deste pressuposto, acho que estamos no caminho certo. Também não sou conhecedora da obra de Jung, só conheço o básico, e, portanto, não espere valiosa contribuição desta analise, mesmo porque é possível que você conheça mais Jung que eu.

Inicialmente pensei em analisar cada um dos seus personagens, mas depois achei que seria mais interessante falar da obra como um todo. Gostaria de iniciar meus comentários dizendo que gostei muito do fato de você ter dado atenção à questão dos sonhos, um tópico que, aliás, foi de fundamental importância na vida e obra de Jung. Foi a obra “A Interpretação dos Sonhos” que ligou Freud a Jung. Poucos pensadores se dedicaram a estudar os sonhos e muitos até desprezam o poder dos sonhos em nossas vidas. Por conhecidência ou não foi um sonho e suas divergentes interpretações o responsável pela cisão de Jung com Freud: o famoso sonho da viagem deles aos EUA.

Mudando de assunto, é muito interessante a tentativa de Jung de estabelecer algum tipo de equilíbrio entre o intelectual supervalorizado (leia-se ciência) e a imaginação proibida para este tipo de estudo, um dos motivos que levam Jung a ser chamado de místico. Vejo o mesmo nos seus contos quase que como uma tentativa, ainda que não consciente do resgate ao estilo e métodos de Jung, e esta é, com certeza, uma das riquezas presentes no que você escreveu em seus contos.Como já citei, nem sempre entender o que você escreve é fácil, assim como também não é fácil entender a psique humana e muitas vezes podemos lidar com o “Contradicto in Adiecto”. À luz das idéias de Jung, poderíamos entender isso como nossa busca na tentativa de compreender a psique humana nos levando ao uso de “ferramentas” que muitas vezes parecem ambíguas e paradoxais, por vezes chocando-se frontalmente com o senso comum. Mas paradoxais e ambíguos são alguns aspectos de nossa natureza psíquica. E se nem a física moderna preocupa-se tanto assim com a lógica e objetividade, por que nós, amantes das ciências humanas deveríamos nos preocupar? Na verdade, em todo este contexto é preferível usar o termo reflexão. Refletir sobre o subjetivo é diferente de entender. Eu na verdade não entendo a psique, reflito sobre ela, assim como sob uma outra lógica entendo que dois mais dois são quatro.

Em vários momentos de sua obra, Jung reafirma que há uma integridade indivisível, uma espécie de relação de incerteza entre o observador e o observado, que sempre o perturba pelo ato da observação. Nenhum modelo pode ser “livrado” das influências subjetivas do seu criador. Então para analisar o modelo faz-se necessário analisar o criador. Tipo com funções sentimento e sensação mais desenvolvidas, tem como características marcantes a obstinação, o perfeccionismo e a introversão, tornando-se difícil compreender seus sentimento e pontos de vista se estes não forem relatados verbal e explicitamente. Estas características são perceptíveis em sua obra e criam uma correlação óbvia entre a complexidade de compreende-los objetivamente.

Voltando a citar Jung e sua obra, este teve fortes influências do movimento romântico, que eu poderia também chamar de movimento dramático. Se eu pudesse usar uma palavra para definir o romântico ela seria “sofredor”. O sofredor, ou diria romântico, sofre do arquétipo da ânsia insaciável. Quando menino, Jung leu Fausto, de Goethe. Ele relatou que o caráter do personagem Fausto veio para ele a ser mais significativo que a estória de Jesus Cristo. Neste ponto Victor, sua obra se contrapõe com Jung. Seus personagens não sofrem, eles estão quase sempre envoltos em pensamentos e sensações maravilhosas. È claro que isso não tira a qualidade de sua obra, mas por alguns momentos me fez pensar sobre o cinza que está escondido por traz do cor de rosa e crer que sua obra tem muitas semelhanças com suas atitudes sentimentais e comportamentais, algumas delas descritas por um escritor chamado Schiller, e que influenciou Jung no desenvolvimento de sua teoria dos tipos psicológicos. Onde você escondeu a sombra? Iniciando minhas considerações finais e plagiando Schelling, um filósofo alemão que teve forte influencia sobre as idéias de Jung, faço uma correlação, em termos humanos, de sua obra com o consciente/inconsciente, um tipo de atividade criativa do si mesmo do espírito. Nós como indivíduos não simplesmente recebemos um mundo criado. Ao contrário, cooperamos com a natureza na atividade de cria-lo. Há uma troca, pois ele nos transforma assim como nós o transformamos e isto está explicitado em sua obra e nos seus personagens.

Por fim, espero que meus comentários estejam à altura de sua obra, e, por favor, não pare de escrever, mesmo porque sei que não sou a única que sentirá falta dos contos interditos, pois, de maneira que às vezes parece simples (mas só aparentemente), você nos faz pensar sobre as coisas mais “aparentemente banais” das nossas vidas e nos faz refletir sobre o quanto elas são importantes. Mais do que ler, eu pude sentir sua obra e me transportar por vezes para seus personagens com seus sentimentos, suas sensações, seus pensamentos, e porque não intuições... (Roberta Mata)"