Sincronicidade
Tudo em todos os universos emana a sua própria consciência, repleta de vivências e sensações fixadas pelo tempo de tanta existência. Assim são o efeito que elas causam, deixando centelhas de mudança em tudo que tocam quando se elevam aos céus, rodopiando numa dança espiral que é belo de se ver. Por mais que sintamos que os momentos podem ter passado ou simplesmente pareçam como sonhos que tivemos numa noite que não se pode lembrar, as vivências deixam marcas na pele que sempre terá a mesma forma apesar dos efeitos do tempo. Por isso é preciso despir-se e deitar na grama, deixar que a humidade da terna invada o corpo e o abençoe com o que de mais sagrado possa existir, o pulsar da respiração do mundo. As árvores são as melhores amigas que podemos em silêncio conversar, tranquilas são suas almas que nos permitem vê-las em forma humana, somente para que assim nos sintamos mais à vontade para olhar-lhes nos olhos. Que elas sempre concedam, sem tomar qualquer forma, tal despredimento. Que sejam como são, árvores e caminhos honestos por onde a vida pode ir e vir.
Olhando para Tomas tenho a impressão de vê-lo como um arvorezinha da montanha, do tipo que crescem os musgos ao pés de suas raizes fazendo-lhes companhia. Assim é bela a sensação de ser tocado intimamente por tais seres esverdeados que não se intimidam pelo tamanho, mas se deixam contemplar pela vontade de ali estar. Existem outros tipos de pequenas árvores que preferem arriscar-se à certas alturas, já existem outras que preferem servir de abrigo permitindo que algo possa conviver ao seu redor e se sentir cuidado. Ainda existem os tipos mais simples de todos, os que se tornam sábios conselheiros em momentos de inquietação. Sempre havendo o convite ao sossego e aroma que exala de seu corpo quando gentilmente permitem que arranhemos-lhe o tronco e deixemos que sua fragrância nos purifique as narinas.
Sentia o som lhe invadir por completo, como se aquilo o conduzisse à um entendimento mórbido de toda a realidade que via. Sonolento ficava na medida que podia tocar, deixando o som que levemente suas mãos faziam num pequeno tambor, preenchesse completamente o local. Isso o arrebatava para dentro de si fazendo contemplar todo a realidade que ainda não era possível perceber quando estava no seu natural estado de desperto. Realmente era uma sensação estranha, saber que existem forças atuando nos bastidores de sua própria consciência e ter que por um momento sair de si mesmo para que elas docemente lhes mostrem suas formas! Hesse sabia e procurava através das batidas alucinógenas do seu tambor olhar de frente para tudo aquilo que estava por trás de seus pensamentos mais secretos. Esses são realmente os momentos de intimidade que poucas pessoas sabem quem existem, são os mais reais e repletos de vida. A mesma vida que podemos ver e tocar, porém numa forma desnuda e sem coberturas criadas por conceitos ou análises impostos por nós mesmos. Tudo existe, mas para ser mostrado precisa-se adentrar os portais internos, de forma limpa como alguém que andando descanço sente o relevo onde pisa sem se incomodar com a leve dor que algumas pedrinhas possam lhe fazer nos pés.
Queria vê-la, banhar-se completamente no perfume que emanava naturalmente da sua pele. Parecia que tudo simplesmente tornara-se calmo e morno, mas sempre há um momento de temporal após uma certa calmaria nos sentidos. Era possível ainda poder lembrar do seu sorriso como antes? Apesar de todas as andanças não muito fáceis de se perceber sabia que aquilo que o envolvia nesse momento o impulsionava a certas atitudes despojadas. Isso era contraditório muitas vezes com o que pensavava a pouco tempo atrás, simplesmente deixar-se compartilhar por algo incerto dentro de si. Queria envolver-lhe novamente nos seus mistérios e fazer com que ela nem sentisse quando adentrasse a cortina de sensações que separava o mundo silencioso e perfumado do seu divã das sensações cegas e amorfas que vagam sem direção do lado de fora da porta. O envolvimento o fazia sentir pontadas no estômago que já aprendera a identificar desde a infância quando sentia que algo no mundo íntimo de sua consciência metafísica se manifestava. Aprendera a conviver com isso, apesar de que muitas vezes o queimavam da mesma forma que o gelo queima a pele de quem o subestima.
Tentava falar com ela em pensamento, como se isso pudesse ser controlado e realmente vivido por ele. Não sabia onde exatamente agora ela estava, apesar de poder de longe ainda sentir a sua forma pequena. Tudo estava solto a girar frente aos olhos de Shiva e isso tinha algo de mágico e hipnótico, queria beber de tal elixir deixando que a lucidez dos que verdadeiramente se permitiram mergulhar nos aromas mais íntimos da existência humana pudesse ser sempre preservada no aconchego de seus braços. Sendo que lá poderia ouvir a voz falar-lhe sobre tudo o que viveu, de errado e certo, mas sempre deixando calmamente claro o quanto relativo podem ser os múltiplos significados de certas palavras. E a mesma voz dizia, como num eco vindo de dentro de sua cabeça, para que deixasse tudo sair. Que deixasse que o medo pudesse ser expelido com total naturalidade, como o organismo procura se livrar de algo extranho quando sente que isso o conduzirá cedo ou tarde ao seu não perfeito estado de equilíbrio.
Lídia não contara verdadeiramente a ele de onde tudo aquilo de dento dela vinha realmente. Sabia que precisava ser observada com atenção, ser notada com os sentidos que as pessoas não sabem usar. Aquilo era nobre para ela, poder se fazer compreendida em gestos e sensações sem que sejam necessárias muitas palavras para expressar a virtude que sabia hav nela. Lembrara-se do momento que o viu encostado numa árvore naquela praça não muito visitada, enquanto procurava um lugar sosegado para meditar um pouco. Aquilo aconteceu pelas forças certas do acaso que sempre direcionavam os sinais aparentemente soltos em uma grande manifestação da sincronia entre almas. Sentou perto e não quis se fazer notar, aquilo era nítido demais para que alguma atitude além do sentir pudesse ser usada. Realmente não era necessário, todas as árvores eram suas companheiras e sentia-se protegida pelo fato de que momentos como aquele pudessem tomar forma no seio delas. Algo o tocou, podia notar isso quando olhou para o lado e viu o olhos castanhos esverdeados olharem profundamente por entre os seus, como se observassem algo nunca antes visto. Não conseguia falar, era uma vontade surpreendente de rir. Poder rir como garotinha e não ter que se preocupar com nada, pois mesmo que houvesse alguém nada poderia ser impedido e nem meramente percebido. Naquele mesmo início de noite entregara a ele sua vida secreta, o toque da manifestação verdadeira de sua vontade. Repleta de tons e aromas como aqueles vindo das flores que se deixam às mãos do montanhês sincero serem despidas suas pétalas enquanto o envolvem em sua essência infantil.
Em seu reino via o tom calado da natureza figurada naquele móvel verde, onde repousara com total tranquilidade como se seu corpo tivesse o peso de uma montanha. Ficou a falar-lhe em sentidos, mostrando as formas que vinham dela quando ele encostava o nariz em seus cabelos deixando-se sentir pela fragrância que tocava o ar à cada palavra por ela pronunciada. Todo o néctar de seu incenso e toda a chama de sua luz a conduzia em um sono que mais parecia uma droga vinda dos lugares distantes, onde os deuses de todos os povos se conciliam em uma única força vinda do eclípse oculto entre o Sol e a Lua.
quinta-feira, 15 de março de 2007
Contos interditos - Parte 13
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Contos
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iae filho...
muito bom os textos, aproveitei pra ler o 12 q nao tinha lido antes...
enfim, eh oq falei antes, esta muito bom e com uma "analise do espirito" muito forte...
continue =)
e sempre q postar me avisa, pq eskeço de olhar hehehe
abraços...
para thiago requiao....
^^
claro q, como vc postou antes...li o q vc escreveu acima..posso sugerir uma coisa? =)
faça como eu...
coloke como pagina inicial..
=)
.......................
vic...
continuo achando uma delicia ler issso td..o louco de tudo é me perder nas suas palavras, nesse enredo todo...e, ao terminar a minha leitura,,,estar cada vez mais ansiosa...isso na primeira lida...como anda sadomizando minha imaginaçao!!!!!!!!!...
O que vc escreve é tao suave e dá uma vontade tao gde de poder entrar em vc...e por um ponto fibnal logo..mas, seria uma idiotice, pois o seu ritmo é cadenciado...e quao sublime é o final...sempre deixado gosto de quero mais e mais...e mais!