O lago hoje estava sem balanço em suas águas,
Como se apenas observasse a tonalidade cinca claro
Vinda das nuvens que sobre si passavam sem cessar.
E como num divã natural,
Repleto da essência da própria natureza
Pode o não-desejo deitar-se,
Observando e falando palavras espontaneamente.
Vindas de um mundo desconhecido,
Envolto em outros novos mundos.
É tão maravilhosa a possibilidade
De entregar-se a eles, um após outro,
E mergulhar nas águas do auto-permitir.
Passa por mim alguém que conheço
pois quando ele ali entrar a segunda vez,
já é outro homem, e o rio também já é outro."
Heráclito de Éfeso
Tudo que me é dito como eterno, eu duvido.
Por mais que tudo esteja aparente em seu lugar
Engano há, tudo mudou, intimamente mudou.
Então tudo é sempre novo,
A oportunidade um dia tida,
Será renovada em outra mais à frente.
Mas a mesma em si, já se foi.
Nem mesmo o hoje,
O amanhã não será como o depois.
Assim, não venha sempre como o agora
Abra-me suas diversas possibilidades
E conquiste-me em cada ser seu.
Vou caminhando entre diversas realidades,
Tantas que nem me importo.
Apenas sinto a sutil linha
Que separa uma das demais.
Entre essas diversas formas,
Coexistem mesmas visões
Que ganham cores e possibilidades
Cada uma à sua maneira,
A cada passo que é dado nelas.
Como bolhas, coexistem e são como são
Passando despercebidas pelos demais do mundo
Nem mesmo ao se tocar em sua linha divisória
Que tomam cores e novos contornos
A visão comum nota-lhe a existência.
Então em momentos breves
Quando o olhar se desapega,
Tornando-se pura contemplação
Surge a beleza das coisas
Envoltas em novas tonalidades.
Tenho constantemente me pegado a olhar o horizonte
A admirar as distâncias, e o vibrar dos lugares.
As leituras tem sido senão caminhos a direções algumas,
Criando a sintonia necessária ao reino das coisas.
Toda a viagem feita pela manhã
Sempre conduz a uma nova Natureza,
Existências diversas, além de qualquer estado meu.
E me põe a não discutir qualquer significado,
Pois sendo assim, há sempre novas revelações.
E ao chegar da noite,
Esperada indiretamente,
Mudo a posição da minha cama.
Para que possa simplesmente ver as diferentes tonalidades do céu
E acordar sem nada pensar.
Enquanto deitado, numa vontade despretenciosa de nada fazer
Sinto o querer de ouvir sua voz
Mesmo sem nunca a ter ouvido,
Apenas a sensação de a perceber ecoar pelo ar que agora me envolve.
Ouvi-la seria maior que qualquer outro querer
Que neste exato momento me faria completamente envolto
Nas belezas de nada ser
Enquanto o que não é meu está aqui comigo.
Mas sei que de seu corpo, flutua como aroma desconhecido
A distante leveza de vê-la dançar,
Não com os olhos.
Ah! Estes de nada serveriam...