Victor Requião

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quarta-feira, 3 de março de 2010

A Arte do negócio


Antigamente as organizações necessitavam (e até incentivavam) o desenvolvimento estreito dos seus colaboradores. Estreito? Sim, era exatamente a forma de visão onde o colaborador da empresa não era incentivado a ter uma visão macro das suas atividades. Não era de interesse na época que ele pensasse muito até que ponto as suas ações iriam impactar no negócio como um todo. Então ele não se preocupava (e nem sabia!) que a sua visão restrita do todo impactava a entrega de resultados de um gerente lá na filial da Suíça, do operador no centro de distribuição aqui no Brasil, e era completamente inconsciente que tudo isso junto reduzia a sua participação nos lucros e o seu bônus no fim do ano. Mas isto não era uma inocência somente dos colaboradores ou da empresa, mas da própria sociedade que até então não tinha visão global ou unificada tanto das pessoas quanto das próprias organizações. Então, o que mais importava era: "Especialize-se ao máximo no que você aprendeu em cursos ou faculdade, foque no seu trabalho, e entregue no prazo o que lhe foi passado!"

Ao mesmo tempo, na sociedade da época, os indivíduos simplesmente se preocupavam com os seus detalhes básicos diários, como trabalhar pra comprar comida, um carro bom ou simplesmente para manter os hábitos onde na sua visão, lhe dariam prazer. Se pararmos para pensar, vemos que isto ainda é forte atualmente, mas há um detalhe que somente algumas pessoas vem percebendo e que acredito ser uma nova visão que não surge da massa, mas do desenvolvimento interior de cada indivíduo. Aos poucos vamos percebendo que não basta simplesmente sermos muito bom no que fazemos, precisamos desenvolver algo mais profundo, precisamos saber lidar com Arte. É importante que agora ao invés de simplesmente aceitarmos um trabalho a ser realizado, um processo a ser seguido ou o projeto de um produto a ser lançado, nos perguntemos de início:
"O que deve ser feito com arte, e não meramente com ciência?"
Isto quer dizer que temos que aprender sobre Arte, como escrita ou pintura, por exemplo? E quanto à ciência, é preciso pensar como cientista e estar sempre pesquisando coisas novas? Não necessariamente, antes de entrarmos neste assunto vamos olhar para trás, a história da palavra "artista" tem uma origem interessante. Na Grécia antiga ser artista implicava em dominar uma grande variedade de ofícios, sendo cada ofício geralmente associado a uma musa. As musas eram divindades que representavam a fonte de todo o conhecimento artístico passado durante séculos na antiga cultura grega, elas também eram a fonte de inspiração para aqueles que buscavam a Arte vinda do reino dos deuses. Assim, o artista era aquele que tinha habilidades que o diferenciava dos demais, e a Arte era o elo entre o ele e a própria divindade.

Porém a Arte no mundo atual para a grande maioria das pessoas simplesmente está associado a alguma habilidade ligada à música, pintura, dança, e por ai vai. Mas isto é a apenas uma das formas onde o artista pode se manifestar hoje em dia. O que vemos é que no mundo atual dos negócios existe uma busca muitas vezes frenética pela diferenciação, pelas habilidades que tornam um indivíduo melhor qualificado que outro para um determinado cargo, ou por características que tornam uma empresa mais competitiva que outra frente o cenário dinâmico dos mercados globais. Então, se olharmos mais a fundo perceberemos que hoje em dia não bastam mais os cursos de graduação, MBAs, certificações e tantos outros graus acadêmicos. Obviamente que tudo isto é válido, porém, sinceramente não garante muita coisa se não cultivamos uma postura de artistas. Quando me refiro à artista, quero dizer daquela postura interior que todo indivíduo possui de ser inspirado por aquilo que vê, pelas percepções do ambiente a sua volta, e principalmente de saber canalizar essa sua inspiração através de um meio onde seja também perceptível às outras pessoas. Ser artista no mundo moderno, além de ter conhecimento do que faz é saber utilizar a habilidade natural humana de expressar-se e interagir com o ambiente ao redor, isto implicar em sabermos cultivar o potencial que temos de executar ações por nós mesmos e não necessariamente seguirmos “ao pé da letra” tudo o que nos foi passado.

Isto quer dizer que não devemos seguir tudo a risca, precisamos saber distinguir até que ponto o trabalho que estamos fazendo necessita ultrapassar a mera padronização. A arte se faz necessária em situações que podem mudar e que não são completamente previsíveis ao ponto de serem padronizadas num processo a ser seguido sem variações. O que comumente vemos é que para tudo o que deu certo uma vez costuma-se tentar impor uma forma, com normas complexas que ditam o que deve ser feito em todas as circunstâncias possíveis. Como consequência, a grande tendência de seguirmos cegamente um processo padronizado é que começamos a ligar o piloto automático e passamos a simplesmente seguir as "regras do jogo" sem pensar, sem darmos margem às outras possibilidades que não foram vistas pelas “mentes do jogo”.

Mas para trabalharmos com arte precisamos ter disciplina, só porque não estaremos completamente presos a definições que significa que não teremos que administrar nada. Pelo contrário, se buscarmos inspiração nos grandes mestres das artes perceberemos que além de saberem o que estavam fazendo, ou seja, além de saberem manusear bem o seu instrumento de trabalho, eles sabiam dar vazão ao que vinha de dentro deles mesmos, como um canal para a própria “divindade” que representavam. Vamos entender que manusear bem não implica que eles eram os grandes técnicos do instrumento, apenas sabiam usar com maestria o instrumento em sintonia com o que estavam dispostos a expressar. Parece a princípio que dominar uma arte implica em dominarmos um instrumento, mas o que importa de fato é sabermos usá-lo como uma antena capaz de sintonizar as nossas habilidades interiores. Ele é simplesmente um caminho para nos expressarmos artisticamente no meio, não um fim em si mesmo.

Assim, não basta somente sabermos o que foi planejado e o que precisamos fazer, mas como vamos fazer isso. Não basta mais simplesmente seguir o "script" e caminhar no mapa do que foi planejado, é preciso mais, é preciso ver a possibilidade de inovarmos em cada atitude. E para isto, é preciso usar a Arte.