Victor Requião

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quarta-feira, 3 de março de 2010

A Arte do negócio


Antigamente as organizações necessitavam (e até incentivavam) o desenvolvimento estreito dos seus colaboradores. Estreito? Sim, era exatamente a forma de visão onde o colaborador da empresa não era incentivado a ter uma visão macro das suas atividades. Não era de interesse na época que ele pensasse muito até que ponto as suas ações iriam impactar no negócio como um todo. Então ele não se preocupava (e nem sabia!) que a sua visão restrita do todo impactava a entrega de resultados de um gerente lá na filial da Suíça, do operador no centro de distribuição aqui no Brasil, e era completamente inconsciente que tudo isso junto reduzia a sua participação nos lucros e o seu bônus no fim do ano. Mas isto não era uma inocência somente dos colaboradores ou da empresa, mas da própria sociedade que até então não tinha visão global ou unificada tanto das pessoas quanto das próprias organizações. Então, o que mais importava era: "Especialize-se ao máximo no que você aprendeu em cursos ou faculdade, foque no seu trabalho, e entregue no prazo o que lhe foi passado!"

Ao mesmo tempo, na sociedade da época, os indivíduos simplesmente se preocupavam com os seus detalhes básicos diários, como trabalhar pra comprar comida, um carro bom ou simplesmente para manter os hábitos onde na sua visão, lhe dariam prazer. Se pararmos para pensar, vemos que isto ainda é forte atualmente, mas há um detalhe que somente algumas pessoas vem percebendo e que acredito ser uma nova visão que não surge da massa, mas do desenvolvimento interior de cada indivíduo. Aos poucos vamos percebendo que não basta simplesmente sermos muito bom no que fazemos, precisamos desenvolver algo mais profundo, precisamos saber lidar com Arte. É importante que agora ao invés de simplesmente aceitarmos um trabalho a ser realizado, um processo a ser seguido ou o projeto de um produto a ser lançado, nos perguntemos de início:
"O que deve ser feito com arte, e não meramente com ciência?"
Isto quer dizer que temos que aprender sobre Arte, como escrita ou pintura, por exemplo? E quanto à ciência, é preciso pensar como cientista e estar sempre pesquisando coisas novas? Não necessariamente, antes de entrarmos neste assunto vamos olhar para trás, a história da palavra "artista" tem uma origem interessante. Na Grécia antiga ser artista implicava em dominar uma grande variedade de ofícios, sendo cada ofício geralmente associado a uma musa. As musas eram divindades que representavam a fonte de todo o conhecimento artístico passado durante séculos na antiga cultura grega, elas também eram a fonte de inspiração para aqueles que buscavam a Arte vinda do reino dos deuses. Assim, o artista era aquele que tinha habilidades que o diferenciava dos demais, e a Arte era o elo entre o ele e a própria divindade.

Porém a Arte no mundo atual para a grande maioria das pessoas simplesmente está associado a alguma habilidade ligada à música, pintura, dança, e por ai vai. Mas isto é a apenas uma das formas onde o artista pode se manifestar hoje em dia. O que vemos é que no mundo atual dos negócios existe uma busca muitas vezes frenética pela diferenciação, pelas habilidades que tornam um indivíduo melhor qualificado que outro para um determinado cargo, ou por características que tornam uma empresa mais competitiva que outra frente o cenário dinâmico dos mercados globais. Então, se olharmos mais a fundo perceberemos que hoje em dia não bastam mais os cursos de graduação, MBAs, certificações e tantos outros graus acadêmicos. Obviamente que tudo isto é válido, porém, sinceramente não garante muita coisa se não cultivamos uma postura de artistas. Quando me refiro à artista, quero dizer daquela postura interior que todo indivíduo possui de ser inspirado por aquilo que vê, pelas percepções do ambiente a sua volta, e principalmente de saber canalizar essa sua inspiração através de um meio onde seja também perceptível às outras pessoas. Ser artista no mundo moderno, além de ter conhecimento do que faz é saber utilizar a habilidade natural humana de expressar-se e interagir com o ambiente ao redor, isto implicar em sabermos cultivar o potencial que temos de executar ações por nós mesmos e não necessariamente seguirmos “ao pé da letra” tudo o que nos foi passado.

Isto quer dizer que não devemos seguir tudo a risca, precisamos saber distinguir até que ponto o trabalho que estamos fazendo necessita ultrapassar a mera padronização. A arte se faz necessária em situações que podem mudar e que não são completamente previsíveis ao ponto de serem padronizadas num processo a ser seguido sem variações. O que comumente vemos é que para tudo o que deu certo uma vez costuma-se tentar impor uma forma, com normas complexas que ditam o que deve ser feito em todas as circunstâncias possíveis. Como consequência, a grande tendência de seguirmos cegamente um processo padronizado é que começamos a ligar o piloto automático e passamos a simplesmente seguir as "regras do jogo" sem pensar, sem darmos margem às outras possibilidades que não foram vistas pelas “mentes do jogo”.

Mas para trabalharmos com arte precisamos ter disciplina, só porque não estaremos completamente presos a definições que significa que não teremos que administrar nada. Pelo contrário, se buscarmos inspiração nos grandes mestres das artes perceberemos que além de saberem o que estavam fazendo, ou seja, além de saberem manusear bem o seu instrumento de trabalho, eles sabiam dar vazão ao que vinha de dentro deles mesmos, como um canal para a própria “divindade” que representavam. Vamos entender que manusear bem não implica que eles eram os grandes técnicos do instrumento, apenas sabiam usar com maestria o instrumento em sintonia com o que estavam dispostos a expressar. Parece a princípio que dominar uma arte implica em dominarmos um instrumento, mas o que importa de fato é sabermos usá-lo como uma antena capaz de sintonizar as nossas habilidades interiores. Ele é simplesmente um caminho para nos expressarmos artisticamente no meio, não um fim em si mesmo.

Assim, não basta somente sabermos o que foi planejado e o que precisamos fazer, mas como vamos fazer isso. Não basta mais simplesmente seguir o "script" e caminhar no mapa do que foi planejado, é preciso mais, é preciso ver a possibilidade de inovarmos em cada atitude. E para isto, é preciso usar a Arte.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Reduzir-se ao essencial


"Impuro e desfigurante é o olhar do desejo. Só quando nada cobiçamos, só quando nosso olhar se torna pura contemplação, é que se abre a alma das coisas, a beleza." (Hermann Hesse)

Por que será que ainda teimamos em complicar tudo ao invés de cultivarmos a simplicidade ao nosso redor? Parece bastante simples pararmos pra pensar e dizermos a nós mesmos que tudo o que temos e o que fazemos é porque exatamente precisamos. Nos basta afirmar que tudo o que temos nas prateleiras das nossas casas, nos nossos carros, na nossa mesa do escritório e dentro de nós mesmo não pode ser reduzido, porque senão estaríamos incompletos! Hoje mais do que nunca venho percebendo o quanto desnecessárias são as inúmeras coisas que carregamos nas nossa vidas e que poderíamos dar um melhor fim a elas. Isto não quer dizer jogar no lixo, não. Nascemos na era do consumismo exacerbado onde tudo o que usamos sempre terá o mesmo destino, o lixo. E assim crescemos na era do descartável, onde, pra que reutilizarmos se podemos simplesmente jogar fora e ter algo novinho em folha? Não é bem isso que quero dizer quanto a simplificarmos as nossas vidas ao essencial, é muito mais além, e envolve em evoluirmos alguns hábitos mais básicos e simplificá-los também. Enfim, aprendermos que "quanto mais, melhor".  Mas na medida que fomos dando os primeiros passos em direção ao essencial perceberemos que o "menos", o "simples", são mais belos, e geralmente melhores.

Na minha mudança recente pra São Paulo percebi uma grande oportunidade para por a simplicidade em prática na minha vida. Inicialmente, porque de qualquer maneira eu não poderia trazer tudo o que tinha comigo, e definitivamente, nenhuma companhia aérea iria aceitar que eu carregasse quilos e quilos de bagagem. Assim, além das roupas que saberia exatamente que iria usar, pensei comigo mesmo quais livros da minha estante seriam realmente válidos levar comigo, e quais deles eu realmente iria ler. Foi então que percebi que no decorrer dos anos eu fui comprando livros que até então nunca havia lido, e vi que para começar a minha "nova vida simples" me bastava viajar com no máximo três livros. E assim foi. Claro que toda mudança para uma cidade nova nos obriga a ter pequenos gastos com coisas novas, e foi ai então que percebi que seria o meu primeiro desafio da simplicidade, comprar somente o que realmente fosse essencial e necessário. Desde então venho tentando me reduzir ao que realmente preciso, aquilo que de fato me basta para levar uma vida onde o que mais importa é o que vem da minha essência, e não o que a moça do comercial ou a super promoção de camisas de grife ditam.

Para todas as ações que tomamos nas nossas vidas sempre há um reflexo no nosso interior, isso é uma certeza que cada dia que passa percebo com mais clareza. Nós agimos no mundo e o mundo age de volta em nós. Desta forma, ao tomarmos ações que simplifiquem as nossas vidas, diretamente estamos criando um espaço dentro de nós mesmos para que as coisas mais significantes ganhem maior percepção. Aprendemos assim a dar valor a elas e ao mesmo tempo não depositarmos a nossa energia em algo que não nos seja útil. Ao fazermos isso,  desenvolvemos o nosso foco, o nosso olhar atento sobre nós e o nosso redor. Quando "limpamos a bagunça" que existe em nosso espaço, passamos gradativamente a dar maior atenção ao que realmente importa, ao que realmente vale a pena, e assim aprendemos a levar a sério algo que começamos e temos foco para levar até o fim.

Algumas pessoas acham que quanto maior a variedade, maior é a oportunidade de acharmos o que realmente procuramos. Claro, não podemos generalizar, mas de que adianta termos muita coisa se não temos tempo para poder dar a devida atenção e usufruir do seu valor? Usando o princípio da Navalha de Ockham, se temos na nossa vida diversas possibilidades para uma mesma coisa (objetos na nossa casa, idéias, emoções, etc), a que nos traz maior valor é aquela mais simples. E todas as outras poderiam ser deixadas para um outro momento, ou então poderíamos dar logo um destino definitivo a elas, seja as vendendo ou mesmo doando pra quem não tem tanta diversidade de escolha quanto nós.

Outro detalhe que hoje em dia está moda é a terceirização, obviamente que para as empresas isto tem um motivo interessante no mundo moderno. Para as empresas, transferir a realização de um determinado serviço, se bem planejada e administrada, pode realmente reduzir o custo de muitos setores no final do mês. Entretanto, quando mudamos a ótica e apontamos o dedo para nós mesmos, vemos que isto muitas vezes nos tem tornado escravos de certos hábitos e certas crenças que na verdade só nos afastam cada vez mais de uma vida direcionada ao essencial. Será se ao invés de sempre comprarmos comida pronta, não seria mais saudável e acolhedor se reuníssemos sempre que pudermos quem gostamos e cozinhássemos uma boa refeição regada a uma boa bebida e a sorrisos? E quanto as nossas casas, os nossos carros, não poderíamos nós mesmos também cuidarmos deles ao invés de sempre pagarmos alguém para fazerem todo o trabalho que pagamos torcendo o nariz?

Que fique bem claro que não estou pregando aqui um completo reducionismo à uma vida "medieval" onde não podíamos contar com as facilidades do mundo moderno. Não. O que me refiro a uma vida simples, é exatamente nos livrarmos de tudo o que de fato é desnecessário e supérfluo, de tudo o que nos tira o foco e nos afasta de um contato mais íntimo com a realidade que habita dentro de nós mesmos.

Assim, quando atingimos estes pequenos hábitos nos sentimos mais leves, e ao olharmos o nosso redor percebemos um ambiente mais limpo e organizado. Em contrapartida, nos sentimos mais livres internamente, livres do apego e da distração visual. Distração que é atraída pelos nossos próprios olhos, sempre tentando direcionar a nossa atenção para tudo o que parece interessante, mesmo que nem saibamos realmente para que serve. Ou seja, eles tentam sem parar depositar a nossa atenção seja no grande número de tranqueiras depositadas nas nossas casas, até na multidão de pensamentos que nos martelam a cabeça a todo o instante. Então, se reduzirmos essa montanha de coisas ao que realmente nos sirva de verdade, reduzimos o stresse e o cansaço. E a nossa mente passará somente a conviver com o que realmente interessa e faz sentido pra nós, e então abriremos os nossos olhos para o dia, vendo que nele há muitas outras possibilidades mais importantes.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Tarde em mim distante



Quando eu penso em todos os que ficaram
Sinto a presença física da distância.
E as outras vidas que existem lá além da minha,
Antes eu as via, hoje as sinto em leve pensamento.

Não há como retornar o ser ao que era antes
Pois não há mais antes.
De tudo o que hoje é, sou tocado pela mansidão,
E a mim vêem com olhos além do pensamento.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Rever o antigo para conhecer o novo



Rever o "antigo" é um passo importante para que possamos conhecer o "novo" quando ele se apresentar. De nada adianta conhecer coisas novas, lugares novos ou pessoas novas se não tivermos a percepção do que realmente "nunca" havia nos acontecido antes, digo nunca no sentido de algo que até então não havíamos  vivenciado ou não havia em nós. Por isso,  ter a noção clara do que já existe em nós, do que já faz parte da visão de mundo que temos, é o grande trunfo para identificarmos o quanto realmente estamos evoluindo, tanto na nossa vida pessoal quanto na nossa carreira profissional.

Se pararmos para refletir um pouco, conseguimos notar que existem dois lados onde o "novo" costuma se apresentar. Primeiro, o lado interior, aquele que existe em nossa própria consciência e que se manifesta de forma abstrata daquilo que ficou das experiências que vivenciamos no decorrer da nossa vida. Neste lado ficam todas as sensações dos momentos que foram (e são!) significantes pra nós, indo desde o susto de ter enfiado o dedo na tomada quando éramos crianças, a lembrança de escalar uma árvore pela primeira vez, até mesmo a sensação de bem-estar do fechamento de um novo negócio ou do ouvir de um "eu amo você" vindo daquela pessoa especial.

Por outro lado ficam os fatores externos, que são aqueles que fazem parte do nosso convívio social e que modelaram a vida física que temos hoje. Isto se mostra evidente quando nos fazemos as perguntas mais simples, tais como, "se eu não tivesse ido ao colégio, faculdade ou até mesmo não tivesse batalhado pra conseguir o primeiro estágio, como seria a minha vida hoje? E o curso de inglês? E se eu percebesse que é importante ser amigo das pessoas?". Assim, por esse lado o "novo" se manifesta através do resultado das nossas escolhas, naquilo que fez e faz com que a nossa vida tenha a cara que tem hoje.

Ai então, de que adianta procurarmos ir pra lugares novos, conquistar um emprego novo ou um relacionamento novo se não tivermos a percepção do que realmente está acontecendo de novo e que nos faz diferentes do que éramos até então. Perceba bem que pouco importa se o que vemos como "novo" é algo bom ou ruim pra nós, pois independente disto, podemos estar vivendo sempre a mesma coisa, só mudando um detalhe aqui ou acolá, e confiantes pensarmos "isso nunca aconteceu comigo antes!". Aos poucos perceberemos que isso é pura ilusão.
 
Acredito que um ponto interessante para ampliarmos a nossa percepção do "novo, é termos pequenas atitudes que vão contribuir de forma única tanto no lado interno quanto do externo por onde ele gosta de brincar. Um primeiro passo, simples e direto, é entrarmos em contato com pessoas que foram significantes para quem somos hoje, tanto na nossa vida pessoal quanto na carreira profissional. Estas pessoas podem ser desde ex-colegas de trabalho, faculdade, ou até mesmo do colégio. Ou até mesmo antigos amores que contribuíram para o nosso amadurecimento e que nos fizerem passar a noite em claro. Porque não tentar meditar sobre "quem realmente ficou no nosso lado de dentro" e que poderia nos trazer um novo entendimento sobre o que já passou? Por que não tentar encontrar estas pessoas para um bom papo em algum lugar agradável? Esqueça a internet, a atitude sincera é conversar com a pessoa olho no olho! Com isso, aos poucos perceberemos que entendendo o que já existe no nosso lado exterior, aos poucos iremos ter a clareza da abstração e também da bagunça que há no nosso interior.

Porém, acredito que na medida que começamos a identificar os fatores externos e olharmos para eles com franqueza, começaremos por consequência a identificar aquilo em nosso interior que também precisamos (re)encontrar. Isto, nos fará reconhecer tudo o que passou como parte integrante de nós mesmos, e não como pontos à parte e desconhecidos. Claro que à primeira vista o que mais nos chama atenção são os fatores externos que acabei de mencionar, mas certamente há também os fatores internos que são fortes traços do que já existe em nós e que nos ajudará a perceber o "novo" quando ele nos aparecer à vista. Ai é que aparece a atitude "faixa-preta", será que não estamos guardando lembranças ou sensações que nos seria mais saudável se deixássemos que fossem levadas pelo vento? Será que não existem ciclos abertos ainda em nossas vidas que precisam ser encerrados para que possamos realmente dar a oportunidade de coisas diferentes se manifestarem? Isto obviamente é uma questão pra nossa própria reflexão, algo que somente cada um individualmente poderá levantar dentro de si mesmo.

Assim, na junção de pequenas atitudes externas e internas, o "antigo" em nós começará a tomar uma forma mais clara. E os momentos novos ganharão uma maior realidade, contribuindo de forma consistente para nos acrescentar novas facetas de vida. É como se numa manhã de sol percebêssemos que no quintal da nossa casa está germinando uma árvore frondosa, e que não havíamos antes notado pois os últimos dias de chuva nos cobriram a visão de que a semente já estava lá.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Ouvindo o chamado do mundo


(Journeyman - The Lovetones)

Não é apenas nós que chamamos o mundo, buscando conhecer coisas novas, lugares novos ou conhecimentos que nos mostrem uma nova realidade perante a vida. O mundo também nos chama de volta, mas não necessariamente da mesma forma que buscamos aumentar a nossa participação nele. Não basta simplesmente concebermos esta possibilidade de ampliarmos os nossos horizontes por terras além da qual nascemos, precisamos ir além, não bastando somente manifestarmos a nossa intenção. Precisamos aprender a ouvir o chamado do mundo à nossa volta.

Ouvir o chamado do mundo está muito além de agarrarmos uma nova possibilidade profissional ou pessoal e decidirmos mudar, sendo que o próprio planeta como um ser vivo consciente nos convida a participar ativamente desta mudança. Ele nos retorna com sinais que podem ser lidos, expandindo a nossa percepção do caminho novo que optamos por seguir.

Ontem enquanto fazia a minha mudança de Salvador pra São Paulo, como uma continuidade da evolução da minha carreira profissional, pude perceber diversos detalhes onde o meu próprio Caminho, o próprio mundo como me via, me fez cruzar por situações que simbolizavam etapas vividas até então. O mundo se manifestava através de pequenos sinais, como que quisesse me lembrar as facetas da vida de onde realmente venho.

Um deles foi no trajeto da minha casa até o aeroporto, quando rapidamente vi através da janela do taxi um homem que caminhava lentamente vestindo a camisa de um evento social promovido anualmente pela empresa qual trabalhei até o dia anterior. Além de ter sido uma coisa inusitada por nunca ter visto alguém usando esta camisa lá no meu bairro, o que vi de mais simbólico neste breve momento foi que a camisa datava do evento realizado no ano em que entrei na empresa (2008), e qual eu havia participado!

Logo em seguida, já no avião passado um tempo de voo, percebi que estava ao meu lado uma antiga membra de uma sociedade espiritualista qual eu frequentei por muito tempo durante a minha adolescência, lembro da primeira vez que fui numa reunião aos 16 anos! Durante algum tempo ao lado desta mulher eu fiquei quieto, ela não lembrava-se de mim e eu continuei imerso em devaneios sobre a significativa mudança que estou direcionando. Porém de subto algo na minha cabeça me fez voltar à realidade ao meu redor. Perceber que as pessoas que encontramos de repente depois de muito tempo sem vê-las, como que trazidas pela própria vida, sempre nos tem algo a dizer. Assim me pus a conversar com ela, chamando-a diretamente pelo nome, o que não preciso nem dizer sobre a feição de surpresa da mulher. Conversamos até o pouso, e ela sorria surpresa com a riqueza da minha memória, tanto em lembrar das pessoas antigas que lá frequentavam, quanto, principalmente, de certos hábitos da personalidade de cada uma delas.

Outro sinal que me tocou aconteceu exatamente no dia anterior à minha viagem, exatamente enquanto terminei o meu último dia de trabalho e fui encontrar com um grande amigo numa livraria próxima ao escritório da empresa. Novamente "sem querer", me deparei com a filha do dono de uma outra livraria que costumava passar somente para folhear uns livros momentos antes de ir ao local da reunião semanal desta sociedade espiritualista que mencionei. Lembro-me de vários anos atrás ter tido uma conversa bastante agradável com ela lá na livraria, sem saber que levaria um bom tempo para encontrá-la "casualmente" noutra livraria!

Desta forma, percebo que é interessantíssima a oportunidade que temos de "ler o livro do mundo" e vermos com outros olhos o personagem principal que somos nós. É como se em determinadas épocas suas páginas estivessem mais abertas aos nossos olhos sonolentos, e que é preciso uma mudança significativa em nossas vidas para que saindo de um bocejo consigamos ler com clareza as suas linhas. Vamos continuar observando, pois novas (re)vivências nos serão mostradas pelo Caminho que decidimos seguir pelo mundo, e com o despertar da nossa consciência veremos que o sentido de unidade entre tudo e todos ficará cada vez mais forte.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

O estalo da consciência

Estar consciente é muito além de estar acordado, estar desperto envolve muito mais do que acordar de um sono onde tudo ao redor parecia cessar no silêncio da noite. A importância de estar consciente é tão presente em nossa história, que o título espiritual de "Buddha" dado ao príncipe indiano Siddhartha Gautama significa "aquele que despertou", e isto no mundo atual não é somente visto como uma característica necessária apenas aos grandes homens iluminados. Claro que no conceito budista do termo, estar desperto envolve uma série de libertações, principalmente das ilusões criadas pela nossa própria mente que nos impedem de ver as coisas como realmente são. E assim, nos impedem de alcançar a clara luz interior, ou seja, a tão falada felicidade que lota as prateleiras das livrarias nos mais diversos livros.

Estar desperto também envolve ultrapassarmos um nível mais sutil, que é estarmos atentos aos pequenos gestos que a vida ao nosso redor muitas vezes nos demonstra e simplesmente não conseguimos ver. Não que isto não seja possível, a grande questão é que isto não tem sido parte do foco da nossa atenção até então. Outras coisas apelam pela atenção dos nossos sentidos à todo instante, desde o oceano de informações que temos acesso pela internet e muitas vezes ficamos confusos sobre o que realmente nos interessa, até pela falta de "profissionalismo político" do governo, que nos beira à indignação e faz emergir do nosso interior as mais conflitantes sensações.

Esses pequenos gestos que falo e que são tão necessários para nutrir a nós mesmos são os mais simples, aqueles que fazem parte da nossa própria natureza. Saber ouvir o que as outras pessoas tem a dizer, e principalmente, sermos receptivos à idéias diferentes (e por que não divergentes ?), são de grande estímulo para que a nossa mente dê um estalo e nos permita acordar para a realidade evidente ao nosso redor. Realidade de que existem pessoas além e que elas são exatamente iguais a nós, possuem seus desejos de felicidade, de crescimento profissional, choram, babam no travesseiro, vão ao banheiro, e acreditem, fedem se não tomarem banho! Por que será que até as coisas mais simples da nossa existência foram deixadas de lado, aquelas que nos permitem ver que tudo no fundo é uma coisa só?

Por outro lado vemos o grande esforço pelo desenvolvimento sustentável frente aos efeitos que já começamos a sentir por causa da irresponsabilidade nossa ao tratar o meio ambiente. Claro, estar atento aos pequenos hábitos, pequenos gestos diários, é também estar consciente e despertar para uma realidade que nos toca o nariz e que precisa da nossa interação.

Assim, segue abaixo algumas "pequenas" atitudes que servem de estalo pra nossa consciência e que nos ajudam a sair da sonolência diária:

1 - Cultive o hábito de perguntar a si mesmo "onde estou?" e "o que estou fazendo agora?";
2 - Quando conversando com alguém procure observar as reações faciais da outra pessoa, e perceba o quão significativo o seu discurso está sendo pra ela;
3 - Torne-se consciente do silêncio, não somente de lugares que sejam propícios a ausência de ruídos, mas principalmente, desperte o seu silêncio interior;
4 - Seja consciente daquilo que há em sua casa que não tem utilidade alguma e que pode ser doado ou reciclado. Reduza-se ao essencial!
5 - Acorde para a realidade exterior, perceba que existe um mundo lá fora além do seu escritório, da sua casa confortável e da sua mente fechada!
6 - Perceba que a tecnologia é um mero instrumento dos tempos atuais e não um fim em si mesmo, como uma machadinha de pedra lascada era um mero instrumento para os homens das cavernas.
7 - Conscientize-se que os seus amigos existem fora dos programas de bate-papo, então, aprenda a desligar o computador, diminuir o número de mensagens SMS pelo celular e cultivar a conversa olho a olho!
9 - Conscientize-se para a simples realidade física de que todos somos iguais e que os nossos corpos têm as mesmas necessidades;
10 - Pense em cada produto que consome, seja consciente do impacto que você causa ao meio ambiente ao usar um copo plástico novo a cada vez que for beber água. Torne-se consciente do que pode ser reutilizado;
11 - Perceba no seu dia-a-dia, o quanto pode reduzir o uso do papel. Será que o volume de correspondências (faturas pra pagamento, informativos, etc) que recebe mensalmente pelo correio não poderia ser reduzido se optasse por recebe-las por e-mail?

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Devaneio sobre a mudança

Eu não sabia ao certo como as coisas iriam ser levadas, simplesmente me permiti seguir em frente sem pensar muito. Procurei não raciocinar exatamente no que poderia acontecer se realmente tivesse que mudar para outro lugar, apenas concentrei o meu foco e dedicação no caminho de me conduzir à própria mudança.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Acordar o dia

Há luzes que piscam lá fora da janela
E há ventos que sopram em outras direções,
Mas há vida em cada ser
E cada um conta a sua história.

Nós não herdamos o tempo,
Tampouco somos quem vivemos num único dia.
Porém enquanto dormimos demais
Perdemos o brilho do Sol que nos conduz à infinitas direções.