Victor Requião

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domingo, 9 de dezembro de 2007

Contos Interditos - Parte 24

Luzir

As lembranças trepidavam juntamente com as chamas da fogueira que Hesse acendera assim que a noite começou a mostrar os seus primeiros sinais. De lá do alto onde estava pode perceber a magnitude da consciência que permeava todos os lugares e formas. Sabia que em momentos como aquele, o véu que separa os bastidores da vida e a visão clara dos espectadores era completamente posto de lado. Não por algum ser superior ou alguma força mística, mas pela grande força da egrégora que todos os que compartilhavam do Sinal da Lua poderiam fazer pulsar quando estavam com o seus pensamentos numa mesma direção, desta forma a sintonia poderia ser sempre aquecida. Para simbolizar isso, quando ouviu passos quebrando o silêncio de fim de tarde ao pisar as folhas secas das árvores, desceu da pedra alta e foi em direção aos gravetos que havia amontoado em forma de fogueira. Assim deu vida às chamas que logo começaram a pintar com fagulhas a escuridão, servindo de farol àqueles que chegavam e que naquele momento da noite poderiam se perder ao entrar no bosque.


Os passos se tornam mais próximos, Tomas andava vagarosamente por entre as folhas caídas das árvores que o circudava. O tom misturado da claridade do sol que arrefecia com a cor dourada da lua que surgia dava um caráter novo e misterioso ao chão daquele lugar. Na verdade sei que o mistério de fato é pura impressão, pois o mais misterioso dos acontecimentos em todas as vidas humanas é elas de fato não possuírem misterio algum! A simplicidade com que se leva e encara os acontecimentos da vida é a maior de todas as forças que conduzem ao despertar da verdadeira beleza das coisas. O vento soprava quieto, mas a camisa branca de Tomas com linhas verticais que intercalavam o verde e o laraja claro tremulava como se o próprio vento o saudasse, aquilo era natural. A natureza sabe e cuida daqueles que adentram ao seu reino de encantos com tal suavidade e respeito, assim era.

Não sabia muito ainde ir, afinal o papel de arroz estava ainda em seu bolso, e qual já havia lido diversas vezes, não dizia exatamente por onde deveria seguir. Apenas umas pequenas palavras eram ditas, o resto era deixado para que ele próprio encontrasse o rumo e o sentido de tal encontro. Achou graça como os sinais estavam por toda a parte, a lua e todas as folhas secas que luziam do chão a ele significavam muito mais que simples folhas caídas no chão, conduziam a uma bleve claridade por entre as árvores! Seguiu sem exitação por entre elas, num total sentido de intimidade com todos os seres que habitavam a floresta, e nesta hora entre o fim de tarde e o início da noite já estariam em suas tocas ou em busca de alimento. Percebeu com o tempo que o som dos passos que ecoavam por entre as folhas não vinham somente dos seus próprios pés, por algum tempo estava num único compasso que o fizera pensar que estava só a andar por aquelas terras, lá estava Dhrei. Fez um gesto com a mão esqueda com o intúito de que ainda na penumbra do dia que se esvaia ele notasse a sua presença. Assim foi, o gesto imediatamente foi retribuido e caminharam os dois na mesma direção como se naquele instante já soubesse aonde ir.


Hesse alimentava o fogo com os gravetos que havia recolhido por entre as árvores, a chama balançava ao passar do vento e parecia não se importar. A sua concentração era algo que sempre me chamava a atenção, mas agora estava diferente, parecia algo mágico observá-lo alimentando as chamas com aqueles gravetos enquanto olhava fixamente nos olhos do pŕoprio fogo que ardia. Era hipnótico e ao mesmo tempo longínquo os "olhos do fogo", e acredito que este tenha sido o maior de todos os sinais até agora, não simplesmente a claridade que fez Tomas e Dhrei encontrarem a direção, mas a força que servia como farol a todos aqueles que haviam se permitido entrar naquele reino de árvores e folhas que luziam do chão.

Ao sentir a presença dos dois, Hesse os olhou fixadamente de forma a convidá-los a não terem qualquer tipo de receio de se aproximarem. Sei que isto não era necessário, pois a intimidade que compartilhavam desde a última vez que estiveram juntos na casa de Tomas havia deixado claro o quão forte era a força que os unia. Sentaram em círculo ao redor da fogueira que trepidava ao céu que escurecia, lá ficaram quietos enquanto os estalidos das chamas davam a impressão de que o fogo realmente estava vívido e compartilhava também daquela mesma sensação de fraternidade. Hesse tocou com cuidado o papel de arroz que estava dentro do bolso de sua camisa, sabia que ainda não era o momento certo. Os outros fragmentos daquela mesma folha que escrevera sobre o sinal ainda não tinham chegado, com os braços abertos tocou nos ombros dos dois que estavam próximos, um em cada lado do seu corpo, e simplesmente sorriu...

Comments
1 comments
Anônimo disse...

qts vezes, nos revezes de ossas vidas, nao deparamos com pessoas q , num minuto, num capricho do destino, aparece em nossas vidas e nos toca tao profundamente...
pode haver vida , pode haver uma relaçoa de trocas tao puras e profundas, nao precisando, necessariamente, haver qqer contato fisico..ou sexo...
delicia voltar a te ler!
delicia poder entrar nesse mundo q vc deixou de lado por tt tempo!tava morrendo de saudade de tds vcs...afinal..em cada um de seus personagens,,é estampaderrimo a semelhança com tts de nos...seja de uma forma..ou outra...
q esse regresso marque um novo episodio, nao soh em sua,,ou minha,,ou nas vidas das pessoas com q partilha essa historia linda...e carinhosa...tao meiga!!!!!!!!!!!!!
^^

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