Victor Requião

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terça-feira, 10 de abril de 2007

Contos interditos - Parte 20

Espiral

Dhrei acordou ainda de madrugada de um sono pesado, sua consciência despertou exatamente após um resquício de sonho estar se esvanescendo em sua mente. Algo forte o trazia uma lembrança vaga, sentia que eram consequências de uma frase que há um tempo atrás não lhe saia da cabeça. Havia lido num livro de um inglês¹ que tivera uma história realmente destoante dos demais da sua época, lá dizia:

"I want (...) anything, bad or good, but strong."

Sabia que as palavras têm poder e que deveriam ser usadas na mais suave forma, com elas muitas coisas podem ser mudadas nas entrelinhas. Podem agir como agentes transformadores elevando as coisas de um polo a outro, numa maneira tão sutil que somente são percebidas as consequências de tal mudança. Assim sabia que aquela frase realmente ecoara em sua vida, desde o momento que a escutou com a voz interna da sua cabeça enquanto lia, e que haviam movimentado grandes forças de formas absolutamente desconhecidas. Ainda mais que não sabia internamente como tais forças o estavam a abalar, sentia-se como o ar que era ferido pelo pêndulo das emoções inconscientes.

Aquilo tudo iniciara um processo de desagregação em todos os que possuem o sinal, percebo isso na forma como eles têm encarado as nuances dos acasos que se iniciaram apartir do momento que receberam o papel de arroz. Haviam desequilíbrios constantes, formas estonteantes que teimavam em se definir de maneira realmente sustentável. Todos tinham suas experiências diárias com mais dor e sensação, entendo que a dor na verdade não significa sofrimento. Mas como uma etapa da real separação de todos os pontos que constituem as partes mais importantes da personalidade de cada um deles. Na verdade percebo que as palavras de poder que Dhrei repetia mentalmente serviam apenas para constatar o contínuo seguir das forças que haviam sido postas em movimento através de Hesse. Elas eram neutras, sinto que não possuiam qualidades que poderiam qualifica-las em um lado bom ou ruim, simplesmente seguiam como energia andrógina deixando rastros que ainda preservavam as mudanças por elas iniciadas.

Todos os povos tinham a idéia da degeneração e da regeneração enrraizada na parte mais espiritualizada da sua cultura. A tríade sempre presente demonstrava o quanto os três elementos primordiais estavam sempre a direcionar a vida: a criação (regeneração), a manutenção e a destruição (degeneração). Desta maneira, a roda infindável do universo estaria sempre a girar.

A roda em movimento tende a dar origem às coisas, a moer as impurezas de forma que se tornem passíveis de forma. Assim através da essência (masculino) e da matéria (feminina) a dualidade do gênero é conhecida, mas na verdade apenas se manifesta como polos da mesma força, vibrando nas mais diversas maneiras de um polo a outro. Penso que na verdade essa força dual tenha dado realmente o caráter múltiplo das coisas, assim como entre 1 e 0 existem infinitos números. Por que então as vidas não seriam uma criação contínua de aspectos masculinos e o femininos?

O equlíbrio entre os ditos opostos precisa ser mantido, porém a força mantenedora que os abraça não é estática. A sua sabedoria está na maneira como encara até que ponto os laços tênues que ligam um ponto a outro devem ser mantidos. Pois caso perdurem muito, a evolução será prejudicada e a roda simplesmente ficará presa no seu próprio eixo. Assim por mais que as coisas estejam num jeito calmo e tranquilo, ou ruim e agoniante, isso será passageiro! Realmente o será, a manifestação do outro lado precisa também acontecer, a percepção disso envolve em clara luz aquele que a obtém.

Por que as coisas sempre nas suas formas mais naturais são sempre encaradas como desagradáveis quando mostram a sua outra face para bater? O carater destruídor da tríade é o mais delicado e incompreendido de todos, tudo que já se manteve estagnado por muito tempo precisa ruir. Assim com seus pés ela gira a roda, de forma nem sempre fácil de lidar e aceitar, mas ela gira! Reduzindo tudo em finas partes, onde todas as impurezas de tudo que foi degenerado lá está como mistura inseparável. Como a grande estátua de barro que o oleiro moe em pó fino para assim dar forma a uma outra de semblante mais imponente.

Até que ponto o pensamento no futuro impediria que as mudanças que passava pudessem atuar? Dhrei tinha essa dúvida, mas acredito que não era somente dele. Cada um agora arava a sua terra, sabendo que tudo que havia sido antes posto nela serviria de adubo, para a semente do sinal que compartilhavam pudesse germinar...

1. Aleister Crowley (12/1/1875 - 01/12/1947)

Comments
5 comments
Anônimo disse...

Muito bom!

Pra mim, um mosaico de informações, experiências, sensações e direção a seguir ou esperar pra seguir.

Será possível seguir um caminho que não se sabe pra onde leva? O que vejo é que preciso decidir...que caminhos ora, lado a lado, não permanecerão parelalos por muito tempo. Ou não...rs

Abraço.
K.

Anônimo disse...

Vivemos em constantes sínteses. Cada ponto de chegada sucita um novo ponto de partida. Este fato é incontestável. A vida gira em movimentos permanentes. Nessa perspectiva, precisamos estar sempre abertos à esses movimentos para que possamos nos transformamos e alcançarmos a evolução. Esse processo é dual, uma vez que dois sentimentos coexistem: a dor e o prazer... Entretanto, é relevante ressaltar que é preciso persistir...

Vi, você é, realmente, fantástico. Seu textos são verdadeiras centelhas de luz que iluminam e despertam sentimentos e sensações edificantes. Eles mobilizam a mudança.

Um beijo!

Anônimo disse...

....21????????
=)

Anônimo disse...

"I want (...) anything, bad or good, but strong."

....minha ansiedade por mais um texto tah me deixando sem paz!!!!!!!!!!alivia -me!!!!!!!!!!!ehehehehhehe
bj no coraçao

Anônimo disse...

"...A tríade sempre presente demonstrava o quanto os três elementos primordiais estavam sempre a direcionar a vida:

-a criação (regeneração),
-a manutenção e
-a destruição (degeneração).

Desta maneira, a roda infindável do universo estaria sempre a girar."


se pudéssemos parar alguma coisa natural..seja acontecimento, evento...q fosse o vento, as trovoadas...ou ateh mesmo o renascer das flores na primavera, nada teria,mmuito sentido, pq nao daríamos valor algum a nada..pra nada...
O que houve nesse conto...foi isso?? a roda começa a girar e a fazer outras marcas...em outros locais, mesmo q marque um mesmo lugar, nada mais estaria igual, entao, estah mudando..esta mudado...
é isso...nosssa vida é um eterno aprender...cair, levantar, crescer, melhorar espiritualmente, ajudar outrem....
as marcas q ficam...expressas ou nao, estarão muito bem guardadas dentro de um canto d enosso coraçao...o aprendizado vai nos melhorando as atitudes....e como um ciclo...recomeçar....melhor, mais centradamente..oumenos (rs)....mas ousar recomeçar!
nao tem como estagnarmos...a vida nos impele pra sequir em frente...lutar,,podemos ateh morrer...sofrer..mais..ou menos...mas tb podemos..vencer...reencontrar um novo amor...perdoar antigas ofensas...e se ver aliviado de ttal fardo....
a natureza eh sabia......e a vida..o nosso show..tem q continuar.....
bj no coraçao , vic..meu amigo mais q kerido..q estimo mt...^^

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