Victor Requião

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quarta-feira, 25 de abril de 2007

Contos Interditos - Parte 21

Depois do sol

Não sabia o que dizer ao olhar e encarar aquela imensidão verde à sua frente, realmente o solstício elevara o ar campestre daquela tarde de sol tímido. Chegara antes do momento dito pelas palavras escritas no papel de arroz, não sabia exatamente porquê, preferindo ficar sentado encostando numa árvore de tronco grosso e galhos frondosos. Os raios do sol que entravam pelos galhos de todas as árvores daquele bosque criavam um clima de serenidade mística que realmente era digno dos tempos antigos.

(Não me refiro aos tempos que passaram como se fossem melhores que os atuais, mas simplesmente percebo a forma natural como muitas vezes as coisas mais simples e belas da vida eram tidas como de suma importância, sendo respeitadas pelo seu valor e pela sua importância como fonte de equilíbrio. Desta forma, pode-se no íntimo sentir que o caráter materno perdido quando se cresce e se distancia dos laços da meninice familiar, é possível de ser encontrado em sua forma mais verdadeira no seio da Natureza.)

Aquilo o fazia sentir-se irmão das criaturas que silenciosamente o observavam de longe, na verdade toda a sensação de irmandade era sentida e compartilhada, porém cada ser expressando-a à sua forma. Lá ficou contemplando o sol que reluzia pelas folhas, fazendo-o ainda mais notar a humidade da terra o envolvendo como envolve a raiz de todas aquelas árvores. O vento leve soprou fazendo-o adormecer, não tinha o que temer então entregou-se ao sossego que parecia vir junto com a briza ao fazer rodopiar no ar as folhas amareladas que do alto caíam.

Era engraçado o contentamento de Hesse ao acordar e perceber que o sol ainda estava no céu, o tempo do cochilo pareceu que havia durado uma noite inteira. Mas olhando no relógio notou que apenas haviam se passado alguns minutos desde o momento que observara as horas no relógio enquanto caminhava em direção ao verde do bosque. O sol para ele naquele momento era a sua direção e o seu reflexo, realmente sabia que seria a sua eterna lâmpada mágica. Sempre os seus raios seriam o melhor conforto para que pudesse aquecer a sua mente em momentos de inquietação, ou até mesmo quando ela se mostrasse revolta à meditação.

Ali perto, pode-se ver um amplo prado, dourado pelo matiz que nessa hora irradia do chão daquele lugar. Após andar um pouco, depois de ter se espreguiçado como criança ao acordar de um cochilo no colo da mãe, foi em direção a um ponto que parecia ser o mais alto. Lá certamente poderia observar o prado dourado com total imensidão, o verde misturado com as fagulhas vindas do sol lhe despertavam sensações tão suas que se achava estranho pelo fato de muitas vezes esquecê-las por completo. E então parado, observando toda a relva de cores misturadas, sentiu que tudo começava novamente. Sua roda havia sido impulsionada por força mais elevada que ele e essa força o dizia nas entrelinhas que aquilo era necessário. Que tudo o que passara de maneira profunda, e muitas vezes angustiante, agora arrefeceria como chama lenta. Tudo novamente estava diante de si, como o louco figurado no topo do abismo de si mesmo. Sabendo que precisa ir adiante, mesmo que os erros que não mais existem ainda criem ecos em sua cabeça tentando chamar-lhe a atenção.

Olhou para a breve claridade da lua que surgia, o sol havia banhado a sua outra face. Ouvem-se alguns passos sobre as folhas caídas das árvores, a noite surgia...

Comments
2 comments
Anônimo disse...

Que delicia podermos acordar e "acordar"!!!!!!!!!!!!!
=)
nao ha mal ou bem q dure para sempre,,,,é isso...td q vivenciamos, aprendemos... se nao houver adquirido nada do q se passa...repetirão-se as coisas...mas de forma diferente....o bom mesmo é isso...
ter seu eu interior centrado...e sabedor de novas aventuras e experiências! melhor q sabedor....é tê-lo aberto a td que vier..bom ou mau...intenso..ou suave;;mas q venham!^^
hugs !!!!!!!!!!!!!!

Sociedade Pró-Ativa disse...

meu quirido, gostei! abraços ;-)

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