Victor Requião

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domingo, 4 de março de 2007

Contos interditos - Parte 10

Veludo

Existiam alguns zumbidos entre o tocar dos copos naquela tarde clara, as pessoas conversavam de forma mansa e era impossível tentar compreender alguma frase por inteiro. A aproximidade entre elas fazia com que falassem baixo e se deixassem entender de uma forma que não são necessárias muitas palavras. Lídia sabia que momentos como esses de alguma forma faziam com que o cotidiano sempre ganhasse um caráter diferente e novo. A força de dentro que sentia sempre querer chamar-lhe a atenção por oras se fazia notar, ainda mais quando conduzia o seu olhar de forma quase que automática para locais ou pessoas que ela não conseguia ao certo distinguir quem eram. E assim quando foi carregar uns copos que estavam largados num canto do local onde se encontrava, percebeu aquilo novamente tentando lhe dizer algo, tentando conduzir a sua atenção para algum ponto que até o momento não sabia qual era. Percebera de súbido algo branco por trás dos copos, algo havia sido deixado ali por alguém que provavelmente esquecera na hora que os deixou. E certamente apenas ela o encontraria, pois os outros colegas estavam em direções cujo trabalho necessitava de uma atenção isolada deles.Tinha um círculo vermelho no centro que o selava, pegou com as mãos e viu que se tratava de uma espécie de carta dobrada de forma não muito igual aquelas que eram enviadas pelos correios, havia uma inscrição no lado oposto ao selo de tom avermelhado que indicava que havia sido deixado exatamente para ela. Como numa intuição forte e passageira resolveu por o papel dentro do bolso e deixar para dar-lhe atenção numa hora mais apropriada.

Hesse sabia que tudo aquilo que escrevera valia também para ele, de alguma forma precisava continuar com aquela sensação que o conduzia a um novo estado do seu ser. Não entedera à primeira vista o que tudo aquilo no papel de arroz queria lhe dizer, mas percebeu que tinha um significado oculto e que somente aqueles cujo "Sinal da Lua" poderia ser notado, eram quem de fato participavam da mesma essência. No dia seguinte notara algo diferente na medida em que ia caminhando em direção ao lugar onde costumava apreciar certos sabores que gostava. Aquilo para ele tornava-se uma descoberta no qual o que se procurava e o próprio buscador eram um só, envolvidos numa percepção de que somente a unidade poderia conduzir. Pedira algo gelado para beber e procurou ficar resguardado das conversas sem nexo que pairavam pelo ar vindas de um grupo de pessoas que conversavam sem assunto definido. Lídia não o percebera, estava tão atarefada sozinha que não desviava o seu olhar com muita frequência, apenas focava naquilo que estava imediatamente à sua frente. Então tirou um dos papéis selados do bolso e deixou justamente numa posição que era quase que inevitável que não se barrasse com ele, assim fez enquanto ela havia entrado para a parte dos fundos do lugar e logo após ele saiu em direção à porta de vidros largos que o levava ao lado de fora.

O que seria que fluia por ela para que ele a identificasse com o sinal e a levasse consigo aonde havia sido indicado? Percebia que existia algo no momento em que escrevia as palavras, até então sem sentido, que não se deixara perceber. Percebia o tom dual daquilo tudo, sempre aprendera sobre a dualidade das coisas assim como as pessoas procuravam expressar para ele e isso o arrasava. Deixava-o descontente com a dificuldade de se ter tantos sentidos duplos para lidar, e o pior de tudo era que sempre atribuíam qualidades boas e ruins a tudo! Por que deveriam todas as coisas serem boas ou ruins, todas as sensações delas devem ser sensações e isso basta. Não há um porquê necessário de se buscar simetria em todos os lados, nada é perfeitamente igual em todas as suas partes. A unidade o fazia pensar naquilo tudo e o deixava um pouco menos opaco. Sentia que em tudo havia uma deformidade natural, uma lado não reto e que possuia uma beleza realmente verdadeira. A lua encarava essa não simetria natural, suas formas eram completamente únicas e possuia a dualidade como uma única essência. O seu hermafroditismo de energias era o seu sinal, pois trazia consigo a essência do sol, do que resplandecia as suas tonalidades como numa orgia de cores vindas do astro rei. E apesar de todos os seus raios misturados como um só, era incapaz de perder aqueles que eram os encantos da sua própria feminilidade.

Abraçara aquela sensação e deixou-se consumir, sabia que a seriedade de si mesmo estava pronta para ser aniquilada num só golpe vindo da própria essência que lhe pertencia. Sossegado em um momento silencioso, sabia que coisas nesse instante estavam a acontecer, o fluído mágico que conduziriam a todos os que possuiam o sinal, estava seguindo um curso forte e natural. Que assim seguisse! Pensou Hesse num estalo de insconsciência já trazida pela sensação que tal situação lhe propiciava.

Tomas adentrava o apartamento, ainda com forte cherio de incenso de bejoim a pairar sob o ar, e desabou no divã verde-musgo respirando fundo. Sentiu uma falta de ar leve e marcante, sentia sempre isso quando não procurava se levar tão a sério. Coisas não muito fáceis de se lidar, eram sensações tão fortes nele que sabia que criavam uma forma adocicada ao toque de certas pessoas. Elas quando adentravam o seu mundo recluso deixavam-se pertencer a ele e adoravam tal figura que podiam encontrar, quando refletidos no espelho que vinha de tudo o que Tomas era as imagens de suas almas verdadeiras saltavam-lhes sobre a mente. Maravilhas como essas eram necessárias para que tudo sempre se renovasse e a figura de Shiva o deixava clara tal necessidade de não manter-se estagnado. Que vontade de enebriar-se novamente no aroma de tais cabelos, isso o afagava como força voraz. Assim quase que deixando uma lágrima escorrer pelo canto do olho, como aquelas que simplesmente escorrem pelo fato de se ficar deitado sobre um lado do corpo por muito tempo, vislumbrou algo que estava pelo chão próximo a porta. Como num salto pegou o papel branco e voltou novamente a deitar no cálido divã, adimirando tal imagem alva que amanava de suas mãos.

Leu como num suspiro tudo aquilo que era destinado a ele, e alisavava o selo vermelho enquanto pensava no que o alegrava em tom intimamente admirador. Algo havia percebido nele a sua real natureza e isso o acariciava, deixando-se relaxar mais ainda no divã enquanto dizia uns versos sem pensar vindos de seu pensamento:

"Eu ainda fogo-sossego,
Caminhante sem treino
A trilhar o existir.

Não, não me olhes de cá.
Apenas quero que vá,
Ao girassol és maior.

Abrindo as portas que fechei,
Sem saber eu deixei."

Vinha a presença de longe como se tivesse perto, nesse momento desejou que tudo aquilo se realisasse. Queria beijar-lhe a nuca e deixa-se conduzir por sensação de mocidade viva que pulsava pelos braços e pescoço dela. Assim sentiu a melancolia dos poetas procurando deitar-se no aroma que vinha do jardim dos fundos, do divã que o acolhia como em abraço desconhecido.

Comments
2 comments
Anônimo disse...

Estou curiosa pra saber quem receberá a terceira cópia e o que se dará desse ajuntamento.

Anônimo disse...

"Gentil leitor, ouça (Poliphilo) VICtor contar seus sonhos, sonhos enviados pelo mais alto dos céus.
Seu esforço nao sera vao, nem o ouvir o enfastiará,
pq essa maravilhosa obra eh rica em mts coisas.
Se, serio e sisudo, vc despreza historias de amor,
saiba, lhe imploro, que as coisas aki estao em boa ordem.
Vc recusa? Mas ao menos o estilo, com sua nova linguagem, discurso serio e sensato, merece atençao.
Se recusar isso, tambem, repare na geometria, as muitas coisas antigas expressas em sinais niloticos...
Aqui vc verá os palacios perfeitos dos reis, a veneraçao das ninfas, fontes e ricos banquetes.
Aa adança das sentinelas, vestidas com roupas coloridas, e o todo da vida humana está expresso em escuros labirintos..."
(the rule of four-ian caldwell & dustin thomason)

apos ler essa parte...como sempre, soh nesse caso atualmente :D ...dou a minha pausa...olho pra estante...essa q olhei nao tah tao repleta de livros..mas eh exatamanete nessa q vejo o livro...de onde transcrevi acima,e po!ali fala mt q eu keria falar....desde o inicio de seus contos!!!!!!
adoro me envolver nos momentos de suas personagens...nas atividades..nos gestos..vivo buscando significados...mesmo onde parece nao haver...kd o resto da historia???????????
=))))))
beijao !

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