Victor Requião

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segunda-feira, 5 de março de 2007

Contos interditos - Parte 11

Realidade

Tomas não sabia sobre ela, apenas deixou-se seduzir pela sua forma simples e pequena apesar de ter receios íntimos quanto a isso. A linguagem que compartilhavam era somente deles, nada muito claro quando se tenta entender com os sentidos que se tornam confusos ao se procurar auxílio neles. Assim me sentia muitas vezes quando tentava observar, até perceber que o meu sentir tinha que se tornar rebuscado e incompreendido pela pessoas que não se mesclavam a tal sensação.

Um mistura alucinógena o vinha à cabeça, queria sentir suas energias fluindo numa só como uma grande flor de lótus! E tudo aquilo era como tinha de ser, onde sentia o pulsar constante dos sorrisos que lhe contemplavam com profundos olhares passageiros. De muito esquecera, mas não da grama verde onde descalso deixava que massageassem os pés enquanto a tinha perto do corpo aos olhós da árvore. Queria o toque incompreendido e aveludado que somente poderia vir dela! Não que isso o fizesse perder o valor por todas as outras pessoas, apenas dela havia algo que somente a ela pertencia. Como poderia negar-se a tal valor, se era tão sincera em sua natureza? Agora pude ver algo que encerrava carta e que não pude perceber quando Hesse a envolveu, juntamente com as outras, no manto protetor da sua caixa escura:

"...esse é e será o nosso maior tesouro, vindo de lugares tão altos que somente o que sentimos pode alcansar. Assim perceba que tudo está ligado, como fio fino que nos une desde tempos sem ínicio sempre a nos envolver em seu manto de sensações multicores. Deixe-se consumir pelas chamas de seu próprio ser e purificados sejamos pelo fogo daqueles que compartilham o mesmo sinal."

Sabia que precisava ir ao seu encontro, mesmo ainda que a tarde estivesse clara e a lumiosidade característica o incomodasse um pouco. Saiu do seu canto carregando a carta, que aberta sobre o divã durante a noite ganhara o leve aroma de benjoim da fumaça que cessava.


Hesse decidiu dedicar-se um pouco às suas aquarelas, procurou sair um pouco do clima urbano que o rodeava, era difícil de suportar toda a contemplação que estava imerso no meio de tantas coisas que tentavam roubar-lhe a atenção. Procurou ir aos rochedos não muito distantes onde poderia sujar as mãos nas cores que mais gostava, enquanto deixava tomar formas soltas daquilo que o permeava sem querer. Não tinha em mente o momento preciso de quando tudo aquilo que foi mostrado através dele iria acontecer, respirou fundo e ainda com pingos de tinta seca nas mãos retirou o papel que levara consigo no bolso da camisa de mangas compridas dobradas na altura dos cotovelos. Releu parado um mesmo trecho que prendeu a sua atenção, aquilo deixou-me curioso e acabou por chamar a minha em sua direção:

"Não precisamos do tempo, de nada valeu tudo o que fizemos através de datas e acontecimentos marcados. Então, por que deixaríamos que isso nos levasse aonde não queremos? Contemplaremos nossos rostos e assim reconheceremos o fogo que serpenteia nos conduzindo à sensações muitas vezes incompreendidas, mas que são reais dentro de nossa própria existência. Perceba que o sinal sempre se manifestará, nas pessoas como nós e no lugar onde nos uniremos no solstício próximo."

Após algumas horas de forte observação verificou que a pintura em seu colo ganhara um tom diferente do que imaginava pintar, era a figura de um rapaz cujo rosto não era possível distinguir. O rapaz estava de costas no alto dos rochedos e observava absorto o horizonte, o vento soprava levantando-lhe o casaco que parecia dançar uma música não audível aos ouvidos. Ao seu lado na grama amarelada havia uma pedra de tom luminoso e violeta que brilhava docemente ao sol que se punha frente à figura do rapaz. Dhrei, pensou Hesse por um segundo sem ter dúvidas. Era o sinal novamente que reunia secretamente os merecedores da tal chama, daqueles que haviam sido os mesmos em roupagens novas carregando o fardo de serem inconstantes.


Voltando já de noite em passos que o conduziam aos degraus que iam em direção à porta, tateara a chave sempre escondida debaixo de uma pedra firme e pesada. Ao lado da chave havia um papel húmido e amassado que reluzia um prateado apagado pela luz fraca da entrada. Jogara-se num só golpe na poltrona da sala e lia as palavras que mais pareciam vindas de um pergaminho antigo, talvez escrito por algum artista que sentindo a verdade o manchara de rajados de tinta fraca e colorida. Dhrei ficou calado simplesmente olhando para o vazio, nada consolava o seu pensamento que em ponto algum conseguia fixar. Assim ficou até romper o silêncio com um breve sussurro que não consegui entender, encostou mais ainda as costas na poltrona de forma que seus olhos pudessem brincar com as linhas coloridas formadas pela luz que transpassava o pequeno lustre composto por pedaços de vidro que havia comprado de um mercador indiano.

Eu poderia sentir Tomas muito longe de lá, consegui quase ouvir o balançar da aste de metal a tocar a janela onde ela dormia fazendo um rangir leve e agudo. Era belíssima a imagem de vê-la deitada com os cabelos a tomar a outra parte da cama como se pudesse completa-la por inteiro. O ruído não a acordara de primeiro, mas a fez entrar num novo estado do seu sonho, onde podia ver fogo e o som de galhos de árvores balançando ao vento trazendo uma sensação de mocidade e frescor. À cada toque que a planta da aste fazia na janela, o seu sono se esvaia e a sua consciência acabava por trazê-la de volta aos sabores da realidade. Tomas já estava dando passos em uma quase melancolia quando pode ver o vulto da presença feminina a abrir a janela e olhar atenta para o jardim, sentiu o rosto dela a cruzar a escuridão e ir de encontro aos seus olhos. Ficaram sentados, ela de costas para ele enquanto os seus braços a envolviam por trás. A árvore onde ele estava encostado servia de apoio onde podia repousar a cabeça e inundar-se no perfume que vinha dos cabelos dela. Assim o tempo passou e o clima frio os levou ao quarto dela.

Ao acordar, Vick não sabia onde estava. Sentia-se enebriada pelo sono que ainda teimava em abandonar o seu corpo pequeno. Virava levemente de um lado para o outro de sua cama larga onde sentia-se completamente à vontade para entregar-se por completo à sua preguiça. Porém sentiu algo entre os seus cabelos a arranhar-lhe o rosto, tateou ainda lerda procurando aliviar o incômodo quando segurou o papel de arroz que Tomas a deixara. Os seus cabelos, como ele pensou enquanto deixava o quarto, serviriam de bálsamo por onde os seus desejos sinceros poderiam se banhar.

Comments
2 comments
Anônimo disse...

oi!!!!!!!!!!!!=)
de cara...e soipetao.;...vc escreve melhor a noite!!!!!!!!!!!!!
hihihihihihi...
levei uns sustinhos enqto lia..surpreende-me o fato de tomas...po...seu lado masculino bate com meu feminino...(nao me faça sentir menos mulher owwwwwww!)..smackkkkkkkkkkkkkkkkk

Anônimo disse...

...nao é correto, tampouco coerente esperar tt pelo proximo conto, mas ...pior seria se nao deixasse exposta a minha opiniao...Gostaria de saber mais de Tomas, de HEsse,de vic,,,,o q esses seres enfrentarao juntos? o q eles amargarão? o que eles terão de certezas? o que lhes trará conforto? do que se confortará as almas e existências?...
vicvicvicvic!!!!!!!!!!
=)
Veio a minha cabeça, carmem...aquela opera...

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