Victor Requião

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quarta-feira, 21 de março de 2007

Contos interditos - Parte 15

Segundo despertar

Chegara em casa tarde, tudo parecia repousar num sono esplêndido como se a natureza ao seu redor fosse sempre entregue ao silêncio e à escuridão. Assim podia ouvir a sua respiração enquanto entrava pela porta e seguia pelo corredor, seus passos pareciam firmes, mas no fundo a firmeza estava longe de sua mente. Navegar pelo torpor de um momento como aquele era a única opção que seu corpo desejava, ficar sem movimentos e somente perceber as impressões dos sentidos de forma estática e doce. Essa leveza de um cansaço estonteante a guiava ao descrédito de tudo, realmente tudo que no fundo sabia que estava a acontecer enquanto ela estava ali largada e inerte. Estavam muitas pessoas a dormir, outras a ler ou simplesmente a olhar para céu. Talvez em direção à claridade da lua que ela sabia que estava lá no alto, e somente o seu reflexo pelos vidros da janela meio aberta conseguia ver de onde estava.

Fitou com os olhos o braço direito e ficou observando o contorno enevoado ao redor dele, ainda mais realçado pela penumbra que lá permanecia. Naquele momento não desejava absolutamente nada, nada realmente existia ali ou além, para que pudesse ser dada um atenção envolvida de desejo e vontade. Entre davaneios dementes, pensava em todo significado da existência que estava imersa, desde as flores até as pessoas que seguiam suas visas e obtiam um certo sucesso com tudo aquilo. Ela sabia que o sucesso na verdade era uma própria invenção humana, como um degrau por onde aqueles que passaram primeiro disseram que ali tudo poderia ser visto de forma diferente. Como se de lá, do degrau mais alto ou baixo do sucesso, toda a representação da vida em sociedade fosse digna de satisfação e alegria. Isso tudo era belo e perfeitamente viável para ela, apesar de que de nada adiantava ficar cogitando sobre as possibilidades de encontrar os ditos sinais que a levariam às diversas escadarias onde se podia ver de cima. Procurava não pensar nisso, afastando sem muito êxito os pensamentos que faziam sempre com que se lembrasse de sempre ter a esperança ao seu favor. Sentia que prender-se aquilo a angustiaria ainda mais, deixando-a cega quando novas direções se mostrassem à sua frente

Tantas cabeças perto dela a deixavam intimamente agoniada, tantos como ela tentando seguir. Mas algo sabia que existia de diferente entre os demais e ela, os sinais se manifestavam em lembranças e acasos que traziam um significado inerente a todo aquele momento. Se ao seu favor ou não, não sabia. Preferiu tentar deixar que a força de manifestar o seu desejo de mudar fosse maior que as dores que tentavam momentaneamente derrubar-lhe as forças que usava de forma nova como meio de lidar com mais estabilidade frente ao que se manifestava diante seus olhos. Era até mesmo assustador o olhar de todos eles, tantos medos por ali a pairar sob suas cabeças. Eram iguais, porém com tons que variavam do cinismo à mocidade bela de algumas outras jovens como ela, com a diferença que os sorrisos eram sempre pouco percebidos entre eles.

Lá ficou até adormecer em seu quarto, entregue com completo desprendimento ao cansaço que lhe retirava do corpo e a deixava leve por todo o ambiente. Dá para perceber que não estava consciente, mas no seu íntimo sabia que de forma natural havia a sensação de que o pulsar dos sinais que percebera, não a faria ser como antes, nem mesmo que tentasse. Tudo já havia se iniciado e era questão de tempo para que Vick pudesse começar a sentir a realização das atividades que dentro de si a impulsionavam em direção às novidades de subir novos degrais. Durante todo o caminhar, sabia que poderia sorrir.

Comments
5 comments
Anônimo disse...

Bom ver que apesar de algumas dúvidas o fica mais latente em Vick é a calma.

E ler-te, acalma..rs

Abraço,

K.

Anônimo disse...

...
Um dia acordei
depois de ter dormido por muitos anos em sono profundo...
e ai, percebi que haviam roubado minhas mascaras
roubaram minhas sete mascaras que tinha das minhas sete vidas
gritei desesperado:
loucos...loucos...loucos..devolvam
então sai a correr pela rua em busca delas...
e ao final da rua olhei para o sol
e ele beijou minha face lentamente
então descobri que não podia viver sem o sol
e dessa forma corri....na sua direção dizendo
loucos..loucos...
loucos os que não percebem o seu poder!!!

....a suprema alegria da descoberta, do despertar chega de forma abrupta, para alguns e de forma suave para outros...Você escreve de forma que nos toca profundamente, porque fala de coisas tão primárias, nos coloca de volta em contato com sentimentos e sensações que esquecemos de viver e presenciar no corre-corre diário que nos consome e drena toda e qualquer energia. Muito bom poder ler algo que nos faça tão bem!

Anônimo disse...

"...mas no seu íntimo sabia que de forma natural havia a sensação de que o pulsar dos sinais que percebera, não a faria ser como antes, nem mesmo que tentasse. Tudo já havia se iniciado e era questão de tempo para que Vick pudesse começar a sentir a realização das atividades que dentro de si a impulsionavam em direção às novidades de subir novos degrais. Durante todo o caminhar, sabia que poderia sorrir."

...impossivel nao suspirar esperançosa ao perceber que a vida não pára, nem para a personagem, nem a ninguem no mundo. Por mais que, entre uma queda a um levantar, as forças se esvaiam, mesmo q a vida pareça aceitar seu controle...sabemos, mesmo nao querendo olhar pouenxergar,, que a vida continua e o show deve continuar;;;td muda...sempre..td hora..td segundo...Nao devemos deixar de nos dar um tempo, nao devemos apenas levar a vida adiante..talvez o tempo q nos demos, sirva pra algo...talvez nos fortifikemos...e..apos uma parada..longa,ou curta..podemos vislumbrar que, a estrada apenas se inicia..e ela sera o q desejarmos...mas a partir dai..saberemos q nao é apensa sucesso, reconhecimento que keremos na nossa vida..keremos paz..uniao...tranquilidade..e harmonia...entre tudo e todos...
mt legal esse capitulo!!!!!!falou td!!!!!!beijao no coraçao!!!!!^^

Anônimo disse...

Aronis,

Mesmo não tendo o tempo necessário para ter um acesso integral às tuas reflexões, não tenho deixado de lado a promessa que havia feito à ti; lembras??! rss.. Bem, para falar a verdade, ainda estou na nona parte - um dia cheguerei lá, viu?!.. uhauhauha...

Ah! Tenho gostado mesmo do teu henredo... E, a cada dia que se passa, admiro mais e mais os contos e estórias que encontro por aí - produções, quase, anônimas. Contudo, as mesmas, transgridem-se em um "patamar" repleto de sensações substanciais retratadas por mentes, demasiadamente, elevadas.

Enfim, conteto-me ao presenciar auto-abstrações tão profundas, e, legitimações existencialistas; co-relacionadas com certos adventos filosóficos. Pois que, para quem possui a capacidade de abstração; trata-se de um prato cheio... + rss....

Hmm... deixemos essa minha prolixidade de lado... E, continuemos com as "viagens" que não deixam as sensações nossas!!
E, como professora que sou, desejo-te mais encantamento nessa tua existência de talentos múltiplos!!

B-jos, mininu lindô!!

Vitor Tamar disse...

"Preferiu tentar deixar que a força de manifestar o seu desejo de mudar fosse maior que as dores que tentavam momentaneamente derrubar-lhe as forças que usava de forma nova como meio de lidar com mais estabilidade frente ao que se manifestava diante seus olhos."

Gostei de tudo que gostei...mas essa parte, realmente me tocou...continue assim...tocando as pessoas com as palavras.

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