Victor Requião

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segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Contos interditos - Parte 3

Sono

A primeira lembrança dela, um dia calmo quando entrava nas escadarias que a conduziriam ao seu mundo novo e mágico. Ela era leve, calmamente leve no seu andar, e isso a deixava com um ar de menina que certamente poucos percebiam, certamente poucos. Podia sentir a leve melancolia que corria por seus cabelos, que muitas vezes pareciam maiores que o de costume quando o seu rosto insinuava um pensamento introspectivo dentro de si mesma. Suas experiências, intensas as vezes a levavam à um estado de certo conhecimento da vida, mas algo ainda insuficiente para fazê-la solta de certas sensações e apegos. Apegos estes que ela nem mesmo sabia que possuia, pois a forma como se manifestavam deixavam meio que dormentes certos sentidos seus.

Cresceu e tinha uma força de domínio jovial em seu olhar, era natural por natureza. Como vinda de um país distante onde somente ela existia como serva e rainha, que aprendera desde cedo os hábitos mais simples e ao mesmo tempo mais sofisticados para aprender a lidar consigo mesma. Tinha gestos pacatos e intensos quando estava só, de uma simplicidade que a levava muitas vezes ao sono e a melancolia. O seu reinado era incompreendido entre os seus, nada era percebido além de mais alguém com que tinham que lidar e que de alguma forma despertava-lhes um certo afeto extremamente discreto, por oras.

Conhecera o tom aveludado do divã numa forma inesperada e na primeira vez que entregou-se nele adormecera facilmente. Coisa estranha de perceber, pois lembro de como o seu sono sempre vinha de uma forma rebelde e passível de domador, mas lá era diferente. As sensações eram retalhadas em um universo à parte, muito próximo do seu reinado absoluto de princesa de si mesma. E isso fez sentir algo extranho e atordoante, daria tudo por aquilo! Apesar de nunca sentir apego por nada nem um amor por suas coisas, queria jogar-se por inteira no veludo verde-musgo e lá segurando uma mão com bastante firmeza adormecer...

Como alguma necessidade oculta de balancear as coisas, em seu sono tranquilo sonhos penosos a faziam gemer. Sentia certos pavores que somente o vazio que a preenchia o corpo deitado poderia deixar ecoar a quem estivesse perto e fosse sensível para perceber. Coisas se revelavam pelas entre-linhas, mostravam-se a ela como uma luz forte e ela sabia que se olhasse muito tempo para elas poderiam cegar-lhe os olhos do futuro de uma só vez! Ela acordava com a mesma velocidade com que dormia e o pensamento ainda a assombrava com tais sensações vindas unicamente do seu inteior, mas que eu sei que tinham reflexos externos.

Tomas sabia que o que o circundava a afetava amargamente, quase como punhal. O deixava inquieto o pensamento que logo se sucedia ao encontro dos dois, a vontade de ficar só e deixar-se penetrar por lembranças e pela briza refrescante que somente poderia sentir sozinho. Poderia ele segurar as folhas que caíam da árvore que ela cultivara por tantos anos e que somente o vento poderia levar? Isso o maltratava, fortemente o maltratava. Tal visão foi percebida quando vira Hesse e a este estendeu a mão, o olhar.

Comments
2 comments
Thiago Requião disse...

li os três, mas resolvi só comentar uma vez já que eh uma continuação...

achei muito bom... vc escreve bem diferente de mim (e isso eh bom, pq eu sou uma merda uhahuauha) enfim, vc trabalha bem os sentimentos e sensações. já eu tenho um lado mais direto, tecnico mesmo.
Tomas em algumas partes eu achei como sendo um alter ego, um eu visto de longe...

muito bom mesmo...

Unknown disse...

aauumm... essa menininha parece com eu naum? rs... um cado... =p
eu gostei... só faltou uma coisa.. vc centrou no interno... tem q tentar equilibrar nos dois... e descrever um pouco do mundo externo deles... e nao esqueça de por coisas feias também... o mundo nao eh um mar de rosas =)
eu te adoro demais
bjin... nina x)
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