Victor Requião

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terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Contos interditos - Parte 5

Afagos

Sinto que as coisas ganharam um patamar inesperado, não poderia imaginar que simplesmente gestos e olhares levassem as sensações a um estado tão forte e possuidor. O clima no ar do apartamento era sutil e silencioso, poderia ser algo mais quieto que aquele aroma sempre exalado no ar? O suor deixado e os sussuros ditos em noites mais frias que as que costumamos ver por cá nessa época ainda são muito vivos naquele canto, agora escuro, da sala que adormece.

A garçonete que Hesse vira, agora lá deitada e a dormir. É como um vapor que sinto subir ao teto olhando tal respiração a pulsar como misturada ao próprio silêncio. Tomas não mais estava, precisava respirar e não se sentia calmo ao ponto de compartilhar com ela o seu sono solitário, necessário para que se sentisse ainda ele consigo mesmo. Seu corpo ainda era o próprio perfume dela como única força que o entorpecia até a lua que de cima iluminava os céus e a cidade onde todos dormiam em inconsciências, mas não ele. Sentia-se completamente absorto em tal estado ao ponto de não mais saber como agir, aquilo o conflitava. Seria a ele permitido galgar tanta responsabilidade de absorver aquela vida e dar-lhe as mãos?

Os deuses todos haviam lhe mostrado tudo o que já sabia, mas existe uma grande diferença entre o saber e o sentir que se sabe. E ele era assim queimado por todas aquelas sensações que o conduziam a um estado de nudez e vontade mórbida de queimar-se ainda mais, mesmo que isso o reduzisse à exaustão física e levasse consigo a noção de ser simplesmente quem era. A varanda onde observava o vento uivar era alta e poderia ficar lá como estava na sua mais pura intimidade sem receio de que o apontassem como algum tipo de salvador ou como algum louco narcisista. Poderia encostar na parede e observar à vontade a tudo de mais singelo que acontecia naquela noite, e ainda mais, poderia deixa-se conduzir pela vontade de mergulhar naquela imensidão macia que era o corpo daquela que a ele se mostrou abrindo a sua caixa de Pandora sem o mínimo receio de que isso poderia destruir aquele mundo por completo.

Ele era destrutivo, não poderia negar, sabia que existiam forças que manipulava e que nunca tinha consciência total delas. Apesar de elas o testarem a cada momento, intensamente em doses homeopáticas com gotas boas e ruins, porém fortes. Aonde isso o poderia levar? Acredito que o pensamento que acaba de passar em sua mente tenha algum sentido, talvez deveria ver Vick e deixa-se consumir um pouco pela chama viva que ele sentia que não o compreendia por completo, mas o escutava como um certo respeito e dedicação.

Fechou a janela e resolveu sair, nada o importava naquele momento a não ser a vontade de dormir em algum lugar onde o seu perfume não o incomodasse tanto. E lá, vestindo algo que não consigo ver, caminha ele descendo as escadas na penumbra que é quase um feitiço que sabe precisar de algum tipo de encatamento vindo de outra parte para que possa nele fazer-se parte, dizendo algumas palavras de poder que elevem tudo aquilo pelo menos por um segundo.

Sempre a viu como uma menina-mulher, era elegantemente desageitada. Ao saber que ele lá estava, procurou descer as escadas de sua casa e encontrá-lo no jardim dos fundos pisando vagarosamente para que a sua casa não acordasse e fizesse o dia amanhacer prematuramente. Eles tinham um gesto particular de se comunicar, Vick o ensinara a balançar com cuidado uma aste de metal por onde uma planta estranha se enrrolava até o alto e tocava-lhe a janela criando um ruído que ela sempre saberia que a chamava. Ao vê-lo, empalideceu e deixou-se conduzir num terno abraço que ela sentia ser de uma força não daquele mundo, mas como se viessem da própria divindade que exalava carinhos através daqueles braços tão gentís com ela.

Era muito quieta, e Tomas sabia disso pois assim também o era. No seu íntimo como uma revelação, sabia que após aquele instante ficaria um tempo sem vê-la para o próprio bem da menina. E por momentos questionou a si mesmo se deveria ter vindo até aquele jardim, ainda húmido dos dias chuvosos que o rodeavam. Esqueceu e entregou-se por completo, a amou por inteiro da sua forma singular. Enquanto isso lembrou-se de versos e do divã que repousava, decidindo partir naquele momento deixando Vick com o seu amor metafísico e a sensação de ter sentido verdadeiramente a alma dele.

Comments
1 comments
Anônimo disse...

pq serah q achei isso..pornografico?????????????
^^
beijaaaaaaaooooooooo!

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