Victor Requião

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quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

Contos interditos - Parte 7

Movimento

O teatro mágico pulsava na cabeça de Hesse como uma nota aguda e repetida, ele sentiu-se comover com tal pensamento tão natural, porém tão posto de lado por aqueles que sentem a arte nas mãos. Gostaria de poder compartilhar isso com todos que ele sentia que havia no interior a mesma chama que agora iluminava o lugar onde estava. Conduziria tal sensação à plenitude de que esperava, se a manifestasse completamente de forma solta e verdadeira com aqueles que ele realmente sabia que a cultivariam?

Tal reino poderia ser criado e o mais importante, cultivado como bela flor! Ele sabia que isso implicava em mudanças, realmente mudanças sinceras que transformariam o seu ser por completo. Deixariam solto de coisas que ele cultivara desde a infância e que tinham a sua importância depois que crescera e vivenciara um mundo de aparências não muito bem definidas como os daquela época. Necessitava de desapegos diários, desde os mais simples gestos aos mais puerís de todos os gostos que sentia, isso o atemorizava o íntimo. Certamente que compreendo tal sensação, ela não muitas vezes pode ser arrancada, mas transmutada numa coisa superior que deve sempre ser preservada a sua natureza não estática. Não era simples para ele sentir o que uma vez foi-lhe dito, a necessária ruptura de tudo o que a ele foi lhe entregue e que o mantia num estado de cativeiro morno e dócil. As noites de maravilha que ele sabe que não mais eram as mesmas, haviam ficado dentro de si, e as que hoje percebia ganharam um caráter de cor diferente. Ele poderia transmutar, claro! Dominá-las dentro da sua própria consciência, para que tivesse sol quando quisesse ou lua quando assim desejasse na sua verdadeira vontade. Tudo não era simples, era necessário por em movimento forças que não sabia muito bem se sabia como controlar...

Enquanto isso, num outro ponto Dhrei deitado em sua cama observa o teto e sente-se sonolento. Naquele momento ele poderia na mais pura e clara vontade deixar-se levar, como um barco vazio por um rio que desaguaria do alto de um grande rochedo. A queda não o punharia em risco, estava tudo dentro dele e a água lhe faria bem quando sentisse as gotas a flutuar molhando-lhe a testa enquanto caia. Ainda podia sentir tudo, desde o gosto como a visão. Aquela que lhe servira a bebida outro dia, formosamente bela e inconsciênte de sua presença, sabia ele ser capaz de conhecer melhor o que ela sentia em momentos longe do tinir dos copos ou dos pratos do lugar onde trabalhava. Decidiu, assim que a tarde desse o seu ultimo sinal ir beber algo e quem sabe permitir-se vê-la. Dormiu e não posso mais sentir o que emanava dele, pelo menos por agora.


Tomas entregara-se por completo à meditação como há muito não fazia, e isso criava-lhe sempre uma sensação de peregrinação em direção a algum ponto oculto dentro de si. Era como se pudesse sentir a dor e o cansaço de tal afastamento, de ter deixado que intervalos tão grandes limitassem momentos como aquele onde poderia entregar-se em luz. Os sábios antigos diziam que o controle do fluxo mental era importante, assim fazendo era possível dissolver os véus que limitavam a consciência de sua real natureza divina. Isso era revelador, mas Tomas não conseguia interromper os pensamentos que o assaltavam a mente. A visão do divã naquele dia, enquanto estava na janela observando as luzes que se acendiam do lado de fora e olhava sempre para trás, ali estava a pedir-lhe atenção. Como de súbito sentia o aroma de Vick e os seus cabelos, sentia como se pudesse preservar dentro dele mesmo tal aroma. Como os mestres vidreiros que tinham o toque de mão perfeito para fazer o melhor frasco capaz de conter toda a essência de um perfume sem deixar que uma ventania levasse-lhe uma gota!

Lá ficou sentado, como em estado hipnótico observando o que se passava internamente sem que ele pudesse ter o menor controle. Mesmo longe poderia ser sentido por ela, que poupava-lhe certos detalhes de si mesma e o conduzia a uma certa vida que tomava forma toda vez que Tomas respirava junto com ela. Parece que o apartamente se encheu de neblina, quase não consigo observar o que agora se passa. Talvez a vibração que lá existe esteja envolvendo tudo num sentido íntimo e particular que prefiro deixar como está, apenas seguindo a contemplação da beleza que dela emana.


As lembranças dos sonhos que tivera ainda eram presentes, procurava vivenciar o que os seus sentidos lhe diziam, mas o seu interior apenas pedia que pudesse ficar longe daquilo tudo. Era inevitável naquele momento deixar de se entregar àquela sensação, mesmo tendo muito o que fazer ali onde trabalhava. Subia um vapor perto de onde estava, tantas misturas de cheiros que exalavam das pessoas e o que elas queriam para beber ou comer, a fazia quase que não sentir fome. Era como se tudo aquilo perdesse a graça para ela, os sentido já estavam dormentes e ela só queria algo em que pudesse encostar o corpo. A presença do divã verde-musgo era forte, como poderia ter adormecido nele sem simplesmente dizera o que queria dele? Ela nem mesmo sabia, queria sentir-se nova e quando segurou a mão de Tomas, sem que nada pudesse acontecer desabou num sono profundo próxima dele. Ao acordar ele não estava mais, havia saído deixando uma pequena refeição na mesa circular. Ela provara com a sensação de que o amor se manifestava nas formas mais inusitadas e perigosas a cada pedaço das coisas preparadas por ele que ela deixava o seu corpo absorver.

Comments
1 comments
Anônimo disse...

to bebada de suas palavras,,,seu texto tah me hipnotizando...serah q td eh assim?serah q em td ha mexmo sincronismo...e interligaçao? fora isso...chega de...nao tentar!!!!!!!!!!!!!=P
to em queda ....nessa cachoeira de sensaçoes! um dia ainda pego o escritor..pra revira-lo do avesso...e "degustar"..nao mansamente..mas com mt voracidade...kero saber mais.kero ver o proximo passo..quero ...definir essa loucura toda....

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